{tag | crescimento pessoal} Revisitando as problemáticas que escrevi


Ohayou, minna! ^^

Eu já andava há algum tempo a pensar em fazer um post onde demonstrasse como algumas das minhas noções mudaram. Quem conheceu este meu cantinho recentemente, ou mesmo quem me conhece desde os ultimos anos do [4ever sapo], é capaz de ficar com a impressão de que eu sempre fui ativista e feminista interseccional e que desde que nasci ando a devorar glossários do tumblr e a aprender como ser inclusiva, mas isso não é nadinha verdade. Eu sempre me preocupei com respeitar as pessoas, mas era aquela boa intenção vaga que quase toda a gente da minha ideade tem porque aprendeu que ser preconceituoso "é mau", e ninguém se vê como uma má pessoa... Mas só depois de descobrir que era bi é que comecei a pesquisar mais sobre, enfim, questões sociais, e comecei a perceber que as minhas intenções não se aliavam à prática. Para todos os efeitos, essa fase de aprendizagem marcou-me imenso e fez-me ver o mundo com outros olhos, até porque mal eu me apercebi do monte de preconceito internalizado que tinha, eu absorvia toda a informação e todas as perspetivas que podia. Aprendi TANTO no espaço de um ano - isto há uns 3 anos atrás - que em alguns aspetos me sinto irreconhecível.

Eu adoro a pessoa em que me tornei, mas gostava ainda mais de poder comprovar que mudei mesmo bastante, não como uma forma de me gabar, mas para demonstrar que, se houve esperança para uma pessoa como eu, não há desculpas para ninguém >.< E isso pareceu-me um bocado inspirador, portanto... porque não criar uma tag para que blogueiras incentivem quem a lê a se tornar uma pessoa melhor?


Tag: Crescimento pessoal

Notas:

  • O objetivo da tag é incentivar quem a lê a tornar-se uma pessoa melhor, e quem escreve a reconhecer o quanto já "cresceu".
  • Com "pessoa melhor", não se pretende passar a ideia de que algumas pessoas são melhores que outras. Entenda-se como "uma pessoa melhor em relação a quem eu era no passado"
  • Crescimento pessoal não é uma coisa linear, nem implica sempre progresso. Muitas vezes, ficar parado no mesmo ponto evolutivo a questionar as próprias noções é mais importante do que avanço cego, portanto é válido mencionar na tag que não chegaram a nenhuma conclusão sobre x tema mas estão a refletir acerca dele. 
  • Qualquer "tópico" serve para denotar que se aprendeu alguma coisa. Sejam questões sociais (ex: aprender a usar corretamente os pronomes de pessoas trans), questões ambientais (ex: aprender que medidas em concreto podem ser tomadas para reduzir a poluição, mesmo não afetando a poluição das fábricas), questões pessoais (ex: descobrir que algo nos faz feliz ou adquirir uma habilidade nova importante), entre outros.

Regras:

  • Listar entre 5 a 10 coisas acerca da qual a nossa perspetiva ou comportamento mudou
  • Para cada ponto, dar um exemplo concreto da perspetiva antiga e atual. Pode ser contando uma história que aconteceu, ou citando publicações no blog ou em redes sociais.
  • Passar a pelo menos 5 pessoas (podem ser mais)
  • Manter no post as secções "Notas" e "Regras"
  • Não tirar os créditos: [caixa de sapinhos | post original da tag]

A minha lista:

Eu vou basear quase todas as coisas que vou dizer em posts antigos, comparando-os com posts atuais. Alguns são realmente bastante antigos, já que tenho o 4ever sapo (o meu antigo blog) desde 2012. É até cómico comparar as coisas que eu achava ou com as quais concordava devido à minha ingenuidade e inconsciência, e algumas pessoas ainda achavam que eu era mais crítica e mente aberta que a média.

  • 1) Eu tinha algumas ideias bastante sexistas
Na altura em que fiz [este post], eu ainda nem sabia o que era feminismo, e concordava totalmente com coisas como divisão de papéis e expressão entre homens e mulheres, não tendo consciência de como estereótipos eram assumidos - quando não forçados - em relação a toda a gente. Daí eu uma vez ter partilhado esse post que encontrei e achei engraçado (sim, eu nem sabia o que era postar conteúdo original), sobre as diferenças entre homens e mulheres. AAAAAAARRRGHHH!!!! Eu fico HORRORIZADA a ler isso! Não deve haver um único post no meu blog atual em que eu não me oponha veemente à ideia de que há caraterísticas inerentemente masculinas e femininas. Expressão de género (as ditas caraterísticas), corpo (sexo, género designado à nascença) e género (a maneira como uma pessoa se identifica) são coisas independentes e nem sequer são binárias, existindo num espectro. Mesmo quando estão alinhadas, não deixa de ser uma questão individual, eventualmente influenciada pela socialização. Alguns posts atuais meus focados em questões de género: [www www www www]. O primeiro desses links foi um dos ultimos posts que fiz no Forever sapo, numa altura em que já estava a pensar que as coisas que escrevia divergiam demasiado do propósito que tinha imaginado para o blog quando o crei. Foi por isso que criei este cantinho ^^

  • 2) Eu era consideravelmente transfóbica
Vou começar por citações dos posts seguintes [www www www]: "Muitas aparecem grávidas porque foram enganadas"; "...não é tão preocupante, mas é assustador pensar que a qualquer momento, um 'macho' pode fazer o que quiser connosco"; "Realmente, casais homossexuais não poderão ter filhos, mas..." A primeira frase foi escrita com a noção de que todas as mulheres, e só mulheres, podiam engravidar. A terceira também. E a segunda equaciona ser homem a ser do sexo masculino.

Eu cresci com a ideia de que mulheres trans eram homens disfarçados de mulheres, quando não pedófilos e predadores sexuais. Enfim, aquela noção estúpida que muitas feministas radicais têm e que eu agora abomino. Claro que drag (interpretar o género binário oposto ao que se tem) existe, e também existem homens que vão longe com planos para violar mulheres, mas ser trans e as duas noções anteriores são coisas totalmente distintas - que eu não tinha como perceber, porque não conhecia a [diferença entre sexo e género](post atual). Eu agora faço questão de suportar direitos trans, respeitar os pronomes das pessoas, combater o mito de que pessoas trans se sentem necessariamente presas no corpo errado [entre outros], incluir e usar os termos adequados para respeitar a existência de pessoas trans quando falo de questões consideradas femininas, como [aborto],... e até faço parte do espectro. É, mudei a esse ponto. Eu sou uma pessoa não-binária que se identifica um bocado mais como mulher, e como não sabia nem o que era ser trans, nem que era possível ser nb, essa foi uma parte de mim que ignorei com sucesso até há pouco mais de um ano. 

  • 3) Eu era gordofóbica
É rir para não chorar. Quando eu fiz [este] post nem sabia escrever, mas o primeiro parágrafo deixa bem claro como eu engolia o mito do Good Fattie: "uma pessoa sente-se sempre menos culpada quando sabe que está a fazer os possíveis." O post em si é sobre dicas para emagrecer, e sim, eu achava que ser gordo era sinónimo de falta de saúde. Never mind there are thin unhealthy people... Havia toda uma questão estética envolvida: há certos tipos de corpos gordos de que eu não sou fã ainda, mas eu colocava a causa no facto de a pessoa ser gorda, ignorava que esse era um gosto formado por influência dos padrões de beleza e não o questionava. Contudo, para além da parte estética, eu tinha aquela mentalidade de que não tinha mal alguém ser gordo (se não se importasse por ter um "corpo feio") desde que tentasse ser saudável, comer bem, fazer desporto... Coisa que é perfeitamente possível pessoas gordas fazerem, mas por alguma razão eu assumia que não, porque isso fá-las-ia emagrecer. Eu critiquei um bocado essa minha mentalidade retrógrada no meu post sobre [feminismo], no meu blog antigo. Tirinha ao lado: [www]

  • 4) Eu dizia "opção sexual" 
Eu estou a reconsiderar se vou mesmo levar esta tag para a frente ou se me devo poupar de vergonhas xD Vejam só as coisas ridículas que eu escrevi [aqui] - esse foi o primeiro post que eu fiz sobre Yaoi e Yuri, e eu na altura achava que posições de neutralidade eram uma coisa muito boa, pelo que apresentei as razões pelas quais as pessoas suportavam ou desaprovavam. Eu literalmente fiz questão de dizer que algumas pessoas se opunham porque achavam nojento ou porque a igreja desencorajava, como se essas fossem perspetivas válidas! Mas o cúmulo foi quando, ao reler esse post, eu vi que em vez de dizer orientação sexual, eu disse OPÇÃO sexual!!! como.é.que.eu.podia.achar.que.isso.era.uma.opção? Fiz um [post atual] sobre essa coisa de "é escolha ou biológico?" neste blog, porque a questão não é tão desprovida de nuances quanto parece, mas decididamente não se diz opção. E o mais ridículo é que na minha cabeça eu achava que só existiam pessoas hétero, gays e lésbicas (daí eu ter demorado tanto a perceber que era bi/pan *mim com as duas se identificar*), para além de achar que era discutível se pessoas lgbt+ (eu nem conhecia o acrónimo) deviam ser representadas na mídia. Como é que eu me tornei - este apelido foi-me dado por leitores meus mais tarde - a rainha da representatividade? É um mistério. Mas decididamente, questões lgbt+ foram aquelas às quais mais dediquei tempo.

  • 5) Eu achava que a "banalização do sexo" era uma coisa inerentemente má
Eu cheguei a fazer um post chamado [a banalização do amor e do sexo]. Esse post tem imensa coisa que eu adoraria queimar na fogueira, a começar pelo facto de que eu considero que só existem relacionamentos entre pessoas de géneros diferentes, equaciono géneros diferentes a sexos diferentes, e trato OS homens e AS mulheres como grupos monolíticos, onde mulheres eram vítimas e homens predadores. Mas aquilo que me faz torcer o nariz e que ainda não mencionei nos pontos anteriores foi o facto de que eu - embora com a intenção de criticar a sexualização indesejada dos corpos femininos - acabei por transmitir a ideia de que gostar de sexo casual e de sentir prazer físico era uma coisa má. O que me parece uma ideia bastante conservadora e, ainda, amatonormativa. Amatonormatividade é preconceito contra pessoas arromânticas, por outras palavras, é a noção de que a única possibilidade de se ser normal é sentir amor romântico. As coisas que eu disse foram problemáticas porque - eu literalmente mencionei isto - eu tratava pessoas que desejavam sexo casual como pessoas sem coração/alma, pessoas frias, insensíveis, mecanizadas. Esse é literalmente um dos mitos com que pessoas arromânticas têm de lidar e, se forem homens ou percepcionadas como tal, ainda têm de aturar quem acha que se estão a aproveitar des parceires. Sexo casual sem atração romântica não implica que a pessoa não tenha ligações emocionais fortes - amizade e laços familiares não são menos que amor romântico -, nem que seja fria - há muitas pessoas apaixonadas por aí com a empatia de um calhau -, nem que se esteja aproveitar - a pessoa pode perfeitamente ter sido honesta com a(s) outra(s) quanto à maneira como se sentia, e desde que haja consenso consciente, é o que interessa. OBS: Eu não estou a dizer que sexo casual só seja tolerável em pessoas arromânticas. Estou a dizer que, da maneira que eu expus o que pensava quando escrevi esse post horrível, dava a entender que uma pessoa precisava de sentir amor romântico para ser humana. Eu digo ainda que "se (mulheres) se preocupassem mesmo (com engravidar), teriam cabeça para se impor e não fazer sexo, mas enfim". Eu não sei o que tinha na cabeça quando disse isso??? Por um lado sexo não implica engravidar, felizmente existem métodos contracetivos, mas por outro mesmo que uma pessoa não consentisse com relacionamentos, isso não era garantia de que seria respeitada. 

  • 6) Eu conseguia conceber relacionamentos poliamoros, mas não os achava válidos
Eu abordei 3 questões sobre amor [aqui], sendo esse um post de 2016. E tem "piada" porque eu sempre, SEMPRE, achei um bocado idiota que alguém que se apaixonasse por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo tivesse de optar por namorar com uma só, mesmo que houvesse a possibilidade de ambas as pessoas alvo de afeição retribuirem o sentimento. E até encarava isso como algo imposto pela nossa sociedade, não vendo poliamor uma coisa inerentemente má. Mas ao mesmo tempo, talvez por medo de afirmar que aceitava relacionamentos poliamorosos como algo totalmente normal, eu dizia que eram estranhos, e definitivamente não sabia que pessoas poliamorosas EXISTIAM e muitas delas eram felizes, na nossa sociedade. Também não entendia muito bem a diferença entre ser poliamoroso e poligamia - para quem não sabe, poligamia acaba por ser um sistema que, da mesma forma que o nosso faz pressão para que toda a gente se relacione com uma pessoa de cada vez, faz pressão para que ninguém se relacione só com uma pessoa. Em algumas sociedades poligâmicas, há ainda sexismo à mistura, sendo que é permitido um homem ter várias mulheres mas não uma mulher ter vários homens (em algumas sociedades é ao contrário em termos binários, mas são ainda mais raros. E claro que não consideram que pessoas não-binárias existem).

  • 7) A minha definição de inteligência era exclusionária
Em 2015, eu fiz um post intitulado [o que é a inteligência?]. A definição que eu dei era uma opinião pessoal - foi com esse intuíto que fiz o texto, e acho que disse várias coisas que se aproveitavam. Contudo, eu basicamente dizia que pessoas inteligentes estavam dispostas a sacrificar aquilo em que acreditavam para poder agir na hora H, ignorando o facto de que, ao fazer isso, se teria de fechar os olhos aos problemas do mundo, até chegar a altura em que a nossa ação fosse relevante. De uma perspetiva estratégica, eu ainda reconheço que essa atitude manipuladora é eficaz. Mas até que ponto vale a pena? Até que ponto vale a pena abafar quem somos, fazer de conta que não nos importamos com as pessoas e fingir que alinhamos num sistema com o qual discordamos, com o único propósito de mudar o sistema por dentro?... Eu regia TODAS as minhas escolhas por esse princípio. Eu *cof* queria *cof* ir para medicina porque odiava a comunidade médica, e achava que quem dava a vida por uma causa era estúpido porque não ia mudar nada. Agora, não considero que tenha uma opinião muito forte sobre o assunto a não ser que se deve respeitar as escolhas das pessoas e não as julgar como menos inteligentes, pois não há como saber o quê que as motiva a agir desse modo. Além disso, todas as contribuições são bem-vindas.

  • 8) Eu achava que suicídio e depressão eram atitudes egoístas
Se eu apoiasse violência, diria que teria merecido uma chapada depois de escrever [este post] para ver se acordava. Embora vá, aplicar isso ao post completo seja um bocado extremo. O tópico "suicídio é cobardia" é que é chocante. Eu, na altura em que escrevi isso, achava que as pessoas que se suicidavam encaravam suicídio como uma solução, quando na maioria das vezes elas encaram-no como um escape, precisamente por não acreditarem que há uma solução. Também digo coisas que parecem rondar inspirational porn - a noção de que certas pessoas existem para inspirar outras e motivá-las a viver/atingir certos objetivos. Obviamente, eu ainda não considero o suicídio uma solução, acho que não vai resolver nada e não é algo que eu suporte, principalmente porque, vivendo, as pessoas poderiam conseguir algo positivo no futuro, principalmente se tiverem ajuda. O que eu acho idiota eram as coisas que eu assumia sobre pessoas que se suicidavam, desconhecendo até que a maioria não o fazia por "egoísmo" nem por não querer saber do mundo e de quem conheciam mas, pelo contrário, por sentirem que o mundo não queria saber delas e porque o seu estado mental não lhes permitia escapar da situação - abusiva, depressiva, ou simplesmente desprovida de significado - em que se encontravam. 

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E voilá, era isto para hoje ^^
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