O que é ter personagens femininas fortes?


Ohayou, minna!

Já estava para fazer este post há algum tempo. Foi adiado constantemente dada a complexidade do seu conteúdo, afinal, isto é fruto de horas de pesquisa e de opiniões confrontadas, e é difícil fazer um texto organizado mas que ao mesmo tempo transpareça todas as nuances da questão do título. Afinal, o que são personagens femininas fortes? Toda a gente parece ter um entendimento diferente, desde personagens com um nível de força e resistência física próximo do de homens - pelo menos no caso de superheróis, onde "poderes" são uma boa forma de contornar barreiras biológicas; personagens confiantes e "empoderadas", o que algumas pessoas imaginam como mulheres que exalam sexualidade e outras encaram como mulheres que não se apresentam de forma apelativa a homens-hétero; personagens que conciliam os ideias femininos como bondade com ideias masculinos como o da vitória e da força; personagens que fazem grandes sacrifícios e demonstram não força física, mas força mental admirável; ou simplesmente mulheres humanizadas e com um papel relevante na história apresentada.

Na verdade, este post não pretende fornecer uma definição do que é uma personagem feminina forte, pois eu não acredito que hajam mulheres mais fortes que outras - e isso não se aplica só a mulheres obviamente. "Mulheres fortes" não passa de uma buzzword, de um conceito que se tornou popular por parecer que é uma forma de respeitar mulheres mas, no fundo, que só serve para as comparar, avaliar e categorizar, e a nossa sociedade já faz julgamentos que chegue na vida real para ter de transpor isso para as questões da representatividade. O meu ponto é que não quero alimentar a narrativa de que há uma forma correta de representar mulheres pois, como qualquer grupo, esse é muito diversificado e é um erro achar que há modelos de personagens femininas capazes de espelhar um grupo inteiro. Assim, eu ofereço uma alternativa: ter mais mulheres. Representatividade não é uma questão de qualidade. Representatividade é uma questão de diversidade. E que melhor maneira há de captar diversidade a não ser através da representação de muitas pessoas distintas

Claro que o post não conseguirá cobrir o assunto por completo, mas preparem-se para um masterpost. E para um overview das críticas mais comuns. Updates sobre mim no fim do post...


Disclaimer: É interessante para mim fazer este post agora pois, se não me engano, em todos os posts anteriores em que eu falei da representatividade e dos direitos das mulheres, ainda me via como uma. Pelo menos, significativamente. E mesmo que continue a defender os direitos de... well, toda a gente, é estranho pensar no distanciamento que fui sentindo em relação à representaividade deste grupo específico. E na forma como não consigo sentir que a representatividade de mulheres é suficiente para preencher o vazio que eu noto por praticamente não haverem personagens não-binárias. Esta questão é tão importante e, contudo, um luxo que eu não tenho. Pois só se pode criticar representatividade quando ela existe.

Voltando ao assunto!

[tia wiki] a introduzir a polémica

Em primeiro lugar, se eu tivesse de escolher um único artigo para vocês lerem sobre este assunto, seria [este], intitulado: "I hate strong female characters".

O que me motivou a fazer este post foram as críticas sucedidas quando tanto o filme de [Alita: Battle Angel] como o da Capitã Marvel estavam nos cinemas, e a comparação entre eles - especialmente entre as protagonistas dos filmes. Afinal, ambos têm personagens femininas que apresentam traços considerados fortes pela maioria das pessoas: capacidades físicas impressionantes e uma história que faz delas guerreiras à sua maneira. Até se pode traçar um paralelo entre a perda de memória de ambas! Mas enquanto que a Alita é uma adolescente doce, meiga, que só é fdp com quem o merece e tem como seus maiores suportes duas figuras masculinas, a Carol Danvers raramente sorri, tem uma personalidade que a nossa sociedade classifica como "bitch", é uma adulta que já perdeu um bocado a fé nas pessoas e tem uma amiga muito próxima como seu maior suporte. 

Algumas pessoas limitaram-se a fazer acusações infundadas a quem defendia apenas uma das personagens - por exemplo, quem defendia só a Capitão Marvel era chamado de feminazi e SJW (Social Justice Warrior, o insulto mais irónico que eu já vi), e quem defendia só a Alita era acusado de não respeitar as mulheres e gostar de como ela era sexualizada (diga-se de passagem que eu não a achei muito sexualizada, como podem ver pela minha resenha do link anterior). Contudo, há vários pontos que eu achei interessantes nessa discussão, e difíceis de analisar:
  • A maioria das pessoas que defendia a Alita, mas não a Carol Damvers eram homens, e eles tentavam provar que não tinham nada contra mulheres - nem mesmo mulheres com papéis protagonistas - reforçando como gostaram de Alita e de Wonder Woman. E isso realmente parece um ótimo contra-argumento, que faz uma pessoa indagar se estão a reduzir a discussão a um nível superficial que possa ser rebatido só com isso (ou seja, uma [falácia do espantalho]), ou se a crítica foi mesmo assim tão vaga, deixando de fazer sentido para quem não entende as implicações da mesma e como tal tornando o contra-argumento apresentado perfeitamente válido. Ou seja: será que realmente os acusaram de não respeitar mulheres só por não gostarem da Carol Danvers, ou havia mais fundamento na acusação que foi omitido para que se pudesse responder desta maneira?
  • Para além disso, tendo sido representadas de formas diferentes, é perfeitamente possível que algumas pessoas só aprovem certos modelos de personagens femininas e que seja isso que está a ser criticado quando se diz que não respeitam mulheres - porque não respeitam o facto de mulheres serem diferentes. MAS gosto e respeito são coisas diferentes. Então, eu não acho que o facto de alguém não gostar da Carol Danvers seja uma forma de desrespeito por mulheres que são como ela - mas é de facto um desrespeito quando ela é chamada de bitch, anti-homem, quando a atriz é atacada e quando é dito que ela sorri muito pouco - sendo que o número de sorrisos dela está bastante próximo ao da maioria de superheróis da marvel. Explicando isso dos sorrisos: esse é um comentário que a maioria das mulheres ouve, pois é suposto mulheres serem doces, simpáticas e compreensíveis. Mesmo que quem a critique dessa forma possa não se aperceber de que o que diz tem raízes em preconceitos existentes.
  • Ninguém se considera um monstro. E pessoas preconceituosas são cada vez mais vistas como monstros... O que eu entendo - os ataques que se sofre da sociedade (sejam emocionais, verbais, físicos ou de outros tipos) fazem com que uma pessoa comece a sentir-se mal, mesmo que só perante microagressões, de tão constantes que são. E embora o problema esteja na estrutura do sistema e na forma como este suporta o preconceito e a discriminação, são os indivíduos que vivem nesse sistema, e é com indivíduos que convivemos. É quase inevitável não começar a ver como monstro alguém que nos está constantemente a atacar, direta ou indiretamente. Porém, as pessoas mudam. E embora isso não seja verdade para toda a gente, há pessoas que mudam de perspetiva quando certos problemas são explicados com cuidado (o que só demora, tipo, vários dias e é impossível de praticar on a daily basis, razão pela qual ninguém deve ser culpado por não ter paciência para defender a humanidade própria ou de outrem quando tem mais que fazer). A questão é que é muito fácil uma pessoa ter preconceitos e se recusar a reconhecê-los porque, por um lado, acha que isso seria ser considerado um monstro e não concorda com isso e, por outro, não tem consciência dos próprios preconceitos. E quando alguém os esfrega na sua cara, a reação defensiva é quase automática - especialmente se a pessoa que está a fazer as acusações não tiver paciência para as explicar ou se tiver precipitado a tirar conclusões - o que leva a discussões improdutivas e que não esclarecem ninguém. 
  • Por fim, eu achei isto cómico: A Wonder Woman foi relativamente atacada quando estava para sair, mas agora consta como filme com protagonista feminina no topo de favoritos de muitos homens, e recebeu um monte de críticas por parte de mulheres, ainda que a par com os elogios. Mas quando saiu o novo póster do filme 2 dela, quase todos os homens detestaram e as mulheres elogiaram - somehow relacionando a quantidade de cores do póster como algo apelativo às mulheres? Err, eu ainda estou a tentar processar o quê que levou ao quê. Podem sempre ver mais [aqui].

(eu não sei onde é que acaba a introdução e começa o desenvolvimento deste post...)


Caraterísticas de personagens femininas fortes

Aqui eu vou trazer vários temas frequentemente abordados em grupos feministas - e não só - quando se discute personagens femininas. Todos eles serão subdivididos em tópicos, começando por explicar o quê que entendo por cada tema, e terminando com links para further reading (que contêm opiniões muito variadas e com as quais eu não concordo necessariamente, apenas apresentados para alargar perspetivas e fazer pensar). Vale lembrar que estes temas não são debatidos exclusivamente 

Masculinidade VS Feminilidade 
Este tema costuma abranger duas coisas: a capacidade de auto-defesa das mulheres, e a aparência física. Claro, a personalidade é um fator importante, já que historicamente há comportamentos e gostos associados tradicionalmente à ideia de feminilidade e masculinidade, mas irei incluir isso noutros tópicos.
  • Primeiro, a mudança de visual entre personagens femininas em cenários que envolvem luta tem vindo a evoluir bastante. Aqui estão [imagens] [de] [filmes] [e] [jogos] [e] [animes] ["antigos"] e [imagens] [de] [filmes] [e] [jogos] [e] [animes] [recentes], em contextos variados desde medievais a futuristas. A diferença é notória, e tem conduzido a trajes mais semelhantes entre homens e mulheres. Mas nem toda a gente está satisfeita com isso, pois há quem considere que há uma perda de feminilidade visual - e isso inclui a opinião de várias mulheres. Há muita coisa envolvida aqui: a praticalidade das roupas nas várias situações e o realismo com que são desenhadas (que nem sempre é um fator importante para a obra), as intenções por trás da caraterização sensual/feminina (ver o tema Sexualização VS Ser sexual), a igualdade nos trajes entre géneros, e ainda se essas roupas são trajes adicionais que mulheres podem usar, ou uma substituição dos trajes aceites anteriormente. 
  • Nem todas as obras têm como objetivo basear-se na história do nosso mundo, consequentemente, nem todas têm preocupações com historical accuracy, mesmo quando usam ideias base emprestadas. Além disso, nem todas as formas de imitação da história levam a roupas muito tapadas ou ao respeito pelas mulheres (já que muita gente associa roupas tradicionais femininas à ideia de modéstia e assim) - às vezes dá-se o contrário, embora não queira falar do tratamento das mulheres ao longo da história neste post nem saiba o suficiente sobre a história da moda para o fazer. Por exemplo, vale lembrar que as roupas das amazonas, em Wonder Woman, são armaduras perfeitamente práticas e baseadas nas [armaduras Romanas], e cobrem todos os órgãos importantes, sem que cubram completamente as pernas. São realistas, mas não são "modestas". 
  • Apesar de tudo, acho que o mínimo que algumas pessoas podem fazer quando retratam roupas de mulheres que participam em cenas de ação como curtas, justas ou que não cobrem quase nada, é admitir que a decisão se baseou em apelar aos homens hétero. O facto de ser fantasia ou de haver alguma justificação para essas roupas na narrativa da personagem não anula isso.  Já ter uma personagem que gosta de "ser sexy" ou transmitir a ideia de sexualidade, porque se sente confiante assim, também não anula a possibilidade de isso ter sido uma desculpa para a apresentar vestida assim - mesmo que a postura dela sirva para discutir questões importantes!  Mais no tema Sexualização VS Ser sexual. Importa notar que este ponto se refere exclusivamente a roupas utilizadas em cenas de ação, relativamente a personagens que sabiam que iam para cenas dessas, porque nessas cenas faz sentido que as personagens vão vestidas com a intenção de proteger o corpo e conseguir movimentar-se livremente em simultâneo. Contextos distintos requererão vestuários com caraterísticas diferentes - só destaquei este porque, well, é onde se encontram mais falhas, como as imagens naquela cadeia de links devem ter deixado claro. 
  • Acima de tudo, o problema não está no que as personagens femininas vestem ou deixam de vestir. Está na maneira como isso contrasta com o que personagens masculinas vestem. Se houvesse alguma obra onde por alguma razão ninguém usava roupa, não haveria motivos para ver qualquer forma de sexismo ou machismo nisso. Mas quando homens têm armaduras perfeitamente funcionais e que os protegem devidamente, e as mulheres usam as famosas bikini-armors... bem, é difícil levar isso a sério. 
  • Exemplos de subversão: Os trajes de {Dragon Age: Inquisition}, Os trajes das amazonas no primeiro filme de {Wonder Woman}
  • Exemplos que se enquadram no estereótipo: I mean, todas as mulheres de {Tera} já dão uma lista enorme...
  • Mais sobre o assunto: [Mysoginistic Gamers: Tera], [Sexism and misogyny in gaming]

Simpatia
Aqui será abordada a maneira como o estereótipo de personalidade feminina (de um ponto de vista tradicional) é apresentado pelas personagens. Será abordado aquilo que ele comporta - que não é uma noção imutável mas foi e ainda é associado à ideia de doçura por muito tempo - , as formas de discriminação reais com que muita gente lida, e finalmente a forma como obras podem reforçá-lo, subvertê-lo, excluí-lo ou incluí-lo de forma aceitável.
  • A ideia de mulher dócil é provavelmente a mais permanente ao longo da história. Desde a educação pela família e pela escola às obras que consomem - incluindo desenhos animados ou livros, ou seja lá o que tenha estado na moda no tempo das pessoas - mulheres engolem constantemente a ideia de que para "serem boas" e respeitadas, devem apresentar-se de certa maneira, o que inclui serem prestáveis, querer agradar, sorrir quase a tempo inteiro (até perante requisitos de estranhos), nunca levantar a voz ou mostrar discórdia... sure, cada vez essa noção é menos prevalente, mas ainda há imensa gente que vive atada por ela. E o mais preocupante é que as pessoas que crescem com essa noção têm imensa dificuldade em discernir o quê que realmente querem e negam todos os pensamentos vistos como "impuros" que possam ter, o que leva a um ciclo de mentalidade tóxica e auto-manipulação e, por outro lado, ao reforço de estereótipos como a ideia de que mulheres são mais maternais e até submissas. E como é que se pode dizer que não, se as próprias mulheres acham - por não se aperceber de quais pensamentos são realmente seus e de quais são manipulados - que são realmente assim? O problema aqui não são essas caraterísticas, obviamente. O problema é a ausência de auto-conhecimento que resulta desse ciclo, e que dura várias gerações. E o facto de que, embora esses traços sejam naturalmente considerados agradáveis, só sejam requisitados quase exclusivamente em mulheres (salvo exceções como a mentalidade estúpida que retrata homens negros que não estão a sorrir como ameaçadores e tal).
  • Como é que essa ideia pode ser reforçada em obras? Thank god um grande número de mulheres que aparecem atualmente nos filmes de ação já não é assim, e em alguns aspetos até pelo contrário - as heroínas da marvel mais recentes têm sido uma boa exceção. Mas sinceramente, os exemplos que reforçam esse comportamento feminino são imensos, começando logo por todos os filmes da disney. Acho que não é preciso indicar quão perfeitamente quase todas as princesas disney se enquadram nos aspetos que disse anteriormente, certo? O que mostra que pessoas afab (assigned female at birth) começam a ouvir essa mensagem desde nascença. De novo, quero clarificar que são ótimos valores e comportamentos em geral - paciência, a capacidade de saber ouvir e ser compreensível, empatia, ajudar os outros... tudo isso é ótimo - mas a origem desses valores, associada à noção de que mulheres devem ser puras, inocentes e ter a responsabilidade de cuidar de toda a gente, MAIS do que de si próprias e das suas necessidades ou sentimentos, é que é o problema. Especialmente por esse comportamento não ser imposto com tanta ferocidade a homens amab (assigned male at birth). 
  • Há, obviamente, emoções e comportamentos negativos associados a mulheres - a ideia de que mulheres são muito histéricas, dramáticas, paranóicas ou mesmo que têm culpa pelos próprios problemas, incluindo em situações onde são vítimas de formas de abuso variadas - mas é engraçado que a maioria dessas noções deriva da oposição das ideias anteriores: As mulheres trazem os problemas sobre si por não terem sido suficientemente simpáticas, por não terem atendido todas as necessidades físicas ou emocionais das pessoas de modo a que elas não conseguiram lidar com tudo sozinhas, explodiram e a mulher que as levou a esse ponto foi a vítima; Classificar a atitude que mulheres têm quando elas próprias explodem porque não aguentam mais de histerismo, paranóia ou drama exagerado é uma forma de as envergonhar e silenciar por estarem a dar atenção aos seus próprios sentimentos e quererem expressá-los, é uma forma de gaslighting para as fazer pensar que não têm razões válidas para se sentir assim e nem sequer deviam estar a dar ouvidos, quanto mais expressar, ao que sentem, pois a função delas é cuidar dos sentimentos das outras pessoas. E quase todas as obras reforçam ideias dessas de alguma forma. Se não reforçarem o comportamento maternal típico aravés de exemplos positivos, reforçam-no com alguma personagem feminina ridicularizada por contrariar esse estereótipo. 
  • Obviamente não há razões para parar de retratar personagens femininas com os valores e comportamentos mencionados. Mas é possível fazer isso subvertendo o aspeto problemático que já mencionei, de que mulheres, e só mulheres, devem dar mais atenção às necessidades das outras pessoas que às suas e servir o desenvolvimento das personagens masculinas. Como? Tanto retratando personagens de outros géneros que partilhem o mesmo fardo, imposto ou derivado das suas personalidades, como validando as razões de queixa das personagens femininas, sem fazer com que a audiência as julgue por não sorrirem ou terem coisas a protestar. Mostrar várias facetas sem que isso arruine os valores dominantes da personagem. 
  • Exemplos de subversão: Ciri {Witcher 3}(consideravelmente doce mas decidida), Carol Damvers {Captain Marvel}, Steve Rogers {Captain America}(um exemplo de personagem masculina que partilha vários "valores femininos")
  • Exemplos que se enquadram no estereótipo: Princesas Disney (com algumas exceções, como Mulan ou a Elsa de Frozen)
  • Mais sobre o assunto: [Why are women expected to smile?] [Forced smiling VS Resting bitch face] [7 times you don't have to be nice] [4 feminine things our culture devalues that are actually quite important] [The myth of female hysteria] [You are not crazy]

Dependência
Sendo que mulheres são tradicionalmente vistas como um ser que deve ser protegido, vigiado, cuidado, indefeso e à sua maneira um objeto a serviço do ego dos homens - afinal, a quantidade de princesas que servem de prémio a tanto personagens masculinas como a figuras históricas é significativa - é claro que isto é um assunto importante. A dependência financeira que ainda existe em muitas sociedades não ajuda nada a amenizar a sensação - muitas vezes correta - de que as mulheres dependem dos homens. Mas não basta reduzir a conversa à ideia de que, se uma mulher depender de alguém, especialmente de um homem, é necessariamente uma má forma de representatividade. Afinal, também se pode ter homens a depender de mulheres, pessoas a depender de pessoas, e isso pode ser usado para tornar as relações entre as personagens mais complexas. Então, qual é o problema?
  • Uma coisa é ter uma personagem dependente de alguém. Outra coisa é haver momentos de dependência. Uma personagem que se encontra permanentemente num estado de dependência é uma personagem sem agência, e geralmente sem grande desenvolvimento também. Claro que ser dependente pode ser usado propositadamente durante grande parte de uma obra para fazer a personagem crescer ou passar por alguma mudança mais tarde - obviamente há muitos mecanismos que permitem que se faça uso disso E garantir que a personagem tenha agência mais cedo ou mais tarde. O problema é mesmo quando isso se torna uma caraterística da personagem, muitas vezes tornando a própria personagem numa ferramenta para permitir o desenvolvimento de quem a rodeia. Por exemplo? Mulheres de muitas obras passam por eventos traumáticos e, em vez de isso contribuir para a narrativa delas, é usado para provocar alguma mudança numa personagem masculina, que muitas vezes até assiste à cena. E não me refiro a figurantes, que quase sempre estão nas histórias com esse mesmo propósito. Não, refiro-me a personagens femininas que até têm algum relevo, pelo menos como personagens secundárias. Até a morte de mulheres pode estar a serviço do desenvolvimento dos homens. Já ter uma personagem que de maneira geral tem agência e pode precisar de ajuda e apoio em algum momento, como é óbvio, é inofensivo. 
  • O género das personagens de suporte importa bastante nesta questão, principalmente quando elas têm um lugar importante no coração da mulher dependente. Exemplos recentes constrastantes: A Alita tem como figuras de suporte uma figura parental e o rapaz de quem gosta, ou seja, duas figuras masculinas; A Carol Danvers tem uma melhor amiga. Na vida real, as pessoas têm normalmente várias pessoas em quem confiam e essas pessoas não só representam papéis de suporte distintos entre si, como são de géneros diferentes mas, nas histórias, normalmente a complexidade das figuras de suporte é reduzida, especialmente em número. Por serem tão poucas, e por ser tão comum mulheres "precisarem" do apoio de homens - nas histórias, digo - ter todos os papéis de suporte ocupados por homens acaba por continuar a transmitir essa ideia de dependência entre géneros e/ou sexos, para além de que contribui indiretamente para a noção de que mulheres não se apoiam umas às outras. Isso podia levar à questão da competição entre mulheres VS sororidade, mas se tiverem interesse, basta verem os posts recomendados. 
  • Se não forem só mulheres a ser apresentadas como dependentes, não há realmente um problema. As várias personagens podem suportar-se mutuamente, o que faria aliás todo o sentido. O que normalmente irrita as pessoas é como heróis masculinos costumam ter suportes homens e, quando têm mulheres como suporte, estas são interesses amorosos, enquanto que mulheres raramente têm outras mulheres como suporte pois raramente há mais personagens femininas que estejam constantemente com elas, acabando por ter de se apoiar nos homens. O problema também deriva da "Síndrome de Smurfette", de que falo mais adiante. 
  • Exemplos de subversão: A amizade entre a Carol Danvers e a melhor amiga {Capitan America}
  • Exemplos que se enquadram no estereótipo: Alita e o pai adotivo ou ela e o interesse amoroso {Alita: Battle Angel}
  • Mais sobre o assunto: [The ideia of independence is a myth] [Rivalidade feminina] [Men are more dependent on women]

Sexualização VS Ser sexual VS Nada de sexual
Este tema está associado em parte à questão da aparência das personagens femininas, mas também ao seu comportamento. Também se prende com aquela mentalidade da nossa sociedade que está constantemente a implorar para ver o corpo de mulheres, mas a partir do momento em que uma mulher se oferece para o mostrar ela é considerada uma puta, basicamente, e também envergonhada por parte de pessoas que consideram que virgindade é o que atribui valor a uma mulher afab. Portanto, falemos de que modo as personagens representadas podem contribuir para a ideia de que o conforto das mulheres não é mais importante do que agradar e até estar disponível para outras pessoas
  • Sexualidade por escolha própria, ou sexualização imposta, são coisas diferentes - mais fáceis de captar em inglês, já agora: to be sexual, or to be sexualized. Esse tipo de diferença é notória quando se vêm discussões sobre o uso do hijab e algumas pessoas duvidam que há quem o use por escolha própria, insistindo que manter as mulheres cobertas é um ato patriarcal e não dar ouvidos ao que as próprias mulheres que os usem preferem, ou em que tipo de situação se encontram. Essas discussões também costumam mencionar o quanto poder mostrar o próprio corpo é um ato de empoderamento e tal, ignorando quão grande é uma generalização dessas. No fundo, pessoas diferentes desejam coisas diferentes, como tal, captar personagens que estejam confortáveis apresentando-se ou comportando-se de formas disntintas faz todo o sentido, e isso inclui personagens que gostam de ser sexuais pelas mais variadas razões. A única coisa que não é aceitável? Obrigar personagens a vestir-se de dado modo contra o desejo delas. Isso pode ser uma parte importante do enredo, mas não pode ser retratado como aceitável. Pelo menos alguma personagem na obra tem de reconhecer que é um problema, de modo a transmitir isso à audiência. 
  • Vale lembrar, contudo, que não é incomum encontrar personagens que dizem estar confiantes na sua postura e aparência sexual mas essa decisão de escrita pode perfeitamente derivar do desejo de sexualizar personagens femininas sem gerar polémica. Oh, e também há pessooas que têm os seus desejos influenciados pela sociedade, o que é compreensível especialmente dada a maneira como a educação condiciona muitas mulheres a pensar de maneira a agradar às pessoas (como já abordei nos tópicos anteriores).  Por outras palavras, estou a dizer que é válido questionar a maneira como personagens "sexys" escolhem afirmar-se, não desmerecendo as personagens em si, especialmente se forem bem escritas ou não tiverem muitos problemas relacionados com representatividade, nem agindo como se a postura da personagem não fosse algo possível de encontrar na realidade, mas perguntando quais são as razões de esta ter sido retratada assim. E só um aparte, é também válido questionar as escolhas das pessoas - pessoas mesmo, não personagens - se isso resultar em resources e meios para elas saírem de potenciais situações indesejadas e garantirem que as suas decisões e desejos são realmente seus (ou pelo menos um pouco mais seus, já que ninguém pode garantir isso a 100%)... mas não se a única coisa que se irá conseguir com isso é incomodar a pessoa, infantilizá-la e diminuir a sua capacidade de tomar decisões ou colocá-la numa situação pior. 
  • Não ser sensual como ideia associada a masculinidade é até creepy, pois implica que ser mulher é a mesma coisa que ser sexual, tanto a nível de aparência como de comportamento. E retira a mulheres que gostam de se cobrir mais o direito de serem vistas como mulheres, femininas e blá blá, chamando isso de empoderamento feminino. Não sei, parece uma lógica furada e problemática. Por outro lado, achar que o problema está em ser sexual pois a partir do momento em que alguém se apresenta assim, por escolha própria ou não, está a agradar certos ideais patriarcais, implicaria que a única solução seria fazer coisas que não agradem a homens, o que por um lado não é completamente possível, e por outro condicionaria as escolhas das pessoas em função do patriarcado, que é o oposto do que se quer. Então nenhuma dessas mentalidades parece correta. E não me parece justo tratar apenas uma delas como se fosse "a verdade" pela qual todas as obras se deviam seguir. 
  • Uma coisa que gera sempre polémica em cenas de ação, e que não, não tem a ver com a quantidade de pele que uma personagem mostra... são saltos altos. Ai, esse debate é renhido. Em primeiro lugar, porque usar saltos altos faz mal à saúde, e só o facto de obrigar atrizes a prejudicar a sua saúde - e isto não se aplica só ao seu uso em cenas de ação - é uma extenção dos requisitos impostos a tantas mulheres em pelo menos situações de trabalho, que é uma questão problemática por si. Em segundo lugar, agora restringindo-me às cenas de ação, é difícil executá-las em saltos altos e requerir isso às atrizes - muitas vezes um requerimento que já aparece no casting - obriga mulheres que se querem destacar como atrizes a aprender uma habilidade assim tão difícil, quando se calhar nem é isso que desejam fazer (podem até não concordar com o uso de saltos altos) e essa barreira não é colocada a atores. Em terceiro lugar, muita gente considera que faz pouco sentido - afinal, o instinto de qualquer pessoa numa situação onde tem de se mover depressa seria remover os saltos altos e, se possível, arranjar calçado confortável, não havendo qualquer razão para que as personagens não queiram fazer o mesmo... e isso leva à ideia de que personagens femininas são forçadas a agradar a audiência mesmo quando isso é um disserviço à personagem, daí relacionar-se com a questão da sexualidade imposta, nem que seja pelos escritores. Por outro lado, há realmente pessoas que adoram conseguir mover-se e até fazer acrobacia em saltos altos pois é uma skill impressionante e devia ser justo poder retratar personagens com o mesmo desejo de exibir essa habilidade sem classificar imediatamente os desejos da personagem como impostos. Além disso, dá para subverter o problema quando as personagens usam os tacões como arma, e algumas conseguem ser bastante criativos ao fazê-lo - então o problema é especificamente estar com eles calçados e não lhes dar utilidade, simplesmente tornando tudo mais difícil. Não são os saltos altos em si. 
  • Exemplos de subversão: Ciri {Witcher} (não que seja muito sexualizada, mas a razão de ela ter parte da camisa desabotoada é muito interessante), Lena Luthor {Supergirl}, numa cena em que revela que os seus saltos são uma arma quando retirados dos sapatos. 
  • Exemplos que se enquadram no estereótipo: Basta ler os links seguintes, ou simplesmente ver as imagens neles
  • Mais sobre o assunto: [Over-sexualization of female characters], [Hyper-sexualization of females in video games] [Needlessly sexualized female characters in movies]

Papel desempenhado na trama
Este parâmetro irá considerar dois aspetos: um, se o papel é de protagonismo ou minimamente relevante para a trama; o outro é o papel social. Podemos ter um filme protagonizado por uma mãe, uma heroína de um filme de ação que é personagem secundária, uma heroína que protagoniza o filme ou uma mãe secundária - por exemplo. E essas combinações serão consideradas aqui. 
  • É perfeitamente possível, como já deve ter ficado claro pelos pontos anteriores, ter personagens femininas que herdam caraterísticas associadas a feminilidade e humanizar as personagens mesmo assim. Isso não se aplica só aos valores, comportamentos ou aparência, mas também ao papel social. Assim, é perfeitamente possível ter mães, enfermeiras e mulheres com papéis desse género que sejam desenvolvidas, especialmente se tiverem um papel de protagonismo ou se for mostrada a relação entre isso e outras caraterísticas e interesses seus. E mesmo quando são personagens secundárias e o pouco que se conhece delas é reduzido a isso, não tem de ser um mau traço - a cena da Molly Weasley, de Harry Potter, a lutar contra uma das maiores vilãs da história depois de ela matar um dos seus filhos é das cenas mais épicas de todas e reflete bem o quanto o amor pelos filhos move muitas mães, e não é de maneira nenhuma uma coisa que as pessoas possam ver e achar que ela é uma "mulher fraca". Definitivamente isso não é um problema, e não tem de ser uma representatividade extinta. Só que muitas mães não são só isso, e era interessante ver outras facetas de personagens em papéis tradicionalmente femininos
  • Do mesmo modo, há muitas personagens em cenas de ação que sofrem do mal abordado no tópico seguinte: pode ser mencionado algures que são grandes guerreiras/cientistas/alguma coisa que não é tão vista como um papel feminino... mas isso não é mostrado. Isso acontece particularmente quando as personagens não são protagonistas - já que, quando são, acabam por ter de demonstrar o que valem mais cedo ou mais tarde. Mas sendo personagens secundárias, o comum é quanto muito vê-las lutar em background durante alguns frames e é isso. E com um bocado de sorte, nem desenvolvimento vão ter. Uma personagem que parecia que ia sofrer um pouco desse mal, mas foi melhorando aos poucos, é a Scarlet dos filmes da Marvel. Embora tenha começado como assistente do Tony Stark, rapidamente se percebeu que ela era muito mais que isso e, para tal ser provado, não só ha imensas cenas de ação, como agora vai ter finalmente o seu próprio filme para se ficar a saber mais sobre as origens dela. Mesmo tendo sido dos últimos vingadores originais a ter um filme - o que a relegava para um papel "secundário" dentro do grupo dos protagonistas - e tendo sido frequentemente um suporte emocional para o resto do grupo (o que pode ser considerado um traço feminino), não deixa de ter um passado e desenvolvimento (que finalmente será revelado por completo), motivações, relações variadas com as outras personagens e gradualmente um papel cada vez mais importante. 
  • É possível ter protagonistas com desenvolvimento, cenas importantes e tudo o mais, sem aderir a grandes papéis ou estereótipos femininos... mas que mesmo assim têm as cenas de protagonismo roubadas. Um exemplo? Em Rogue One, numa das últimas batalhas, o golpe final poderia perfeitamente ter sido executado pela protagonista... Até se adequaria em cenas típicas da jornada do herói: os aliados foram todos ficando pelo caminho devido a obstáculos ou ferimentos, uma estratégia comum para isolar a personagem principal e obrigá-la a derrotar o vilão por conta própria. Mas no momento em que isso ia acontecer, uma das personagens masculinas principais conseguiu reaparecer e ajudou-a a finalizar o vilão, executando o golpe final por ela. Esse teria sido um ótimo plot twist... não fosse a raridade de cenas dessas protagonizadas por mulheres, pelo menos até à data em que o filme saiu. Assim, embora ainda tenha sido interessante do ponto de vista da narrativa, roubou mais uma conquista que seria das personagens femininas. Dá mesmo para dizer que a jornada do herói ficou por concretizar.
  • A maioria das heroínas mulheres são personagens secundárias dentro do círculo das personagens principais. Muitas vezes têm papéis que pouco ficam atrás do protagonista masculino, mas ainda assim, é algo tão frequente que começa a irritar. Quase todas as obras - especialmente coleções - famosas sofrem desse mal: Harry Potter (Hermione), Marvel (A Capitã Marvel foi a primeira mulher a protagonizar um filme da marvel), e para não falar só que coisas daptadas para filme, há vários livros (Wheel of Time), e jogos (Witcher) que sofrem desse "mal". Há muitas exceções, sem dúvida. Mas serão essas exceções tão famosas quanto os exemplos que eu citei? Que tenha noção, não. 
  • Exemplos: já disse vários em cima, e são difíceis de classificar subversão ou adesão a estereótipos...
  • Mais sobre o assunto: [Moms are main characters too], [Women as caretakers]

Show, don't tell
Competência é aquela coisa que fica sempre bem. Contudo, há muitos escritores que têm o hábito de indicar que certas personagens são especialistas ou que têm habilidades impressionantes em certas áreas, e nunca dão à personagem uma oportunidade para o mostrar. Esse é um dos pilares do que se considera "bad writing" em geral, e afeta tanto personagens como eventos - em especial, o impacto que têm. Uma coisa é saber que aconteceu uma guerra - outra, vivenciá-la através de uma personagem; Uma coisa é saber que uma mulher é uma cientista de renome - outra, é vê-la a resolver problemas
  • É importante não assumir que quando ocorrem problemas destes, é por causa de algum preconceito (nem mesmo inconsciente) por parte dos escritores. Poderia ser, de facto, em casos em que as personagens masculinas têm oportunidades para provar o seu valor e as personagens femininas - da mesma obra - não têm. Isso é relativamente comum, já que às vezes os escritores parecem achar que basta afirmar que há "mulheres fortes" entre os heróis para satisfazer as feministas, o que desejam - apenas não desejam ter o trabalho de escrever mulheres. Mas se forem raríssimas as personagens que demonstram aquilo que valem, e se tudo o que soubermos sobre elas (isto aplicado a personagens de vários géneros e da mesma obra) foram coisas que alguém disse, então é mesmo um problema de má escrita. 
  • E estas coisas não têm de ser vistas da perspetiva das personagens que exibem a competência, é perfeitamente possível que elas simplesmente partilhem a cena com mais alguém que atesta pela competência delas. Contudo, esta coisa da perspetiva variável só faz sentido quando se está a falar de demonstrar habilidades. Quando se está a falar de vivências por parte das personagens - especialmente eventos traumáticos - o ideal seria fazê-lo da perspetiva de quem a vivencia ou, pelo menos, não usar a cena assistida para o desenvolvimento de personagens masculinas (ver o tópico da dependência). Basicamente é uma questão de respeitar a vivência das pessoas e não as tratar simplesmente como um meio para fazer outras personagens evoluir.
  • O exemplo que me fez aprender sobre Síndrome de Trinity: A mãe do Hiccup, em {How to Train Your Dragon}, é das personagens femininas mais interessantes de sempre... e contudo, não tem nada para fazer nem que lhe permita demonstrar o que a enriquece. 
  • Exemplos de subversão: Honestly, não estou a ver nenhum
  • Exemplos que se enquadram no estereótipo: Valka {How to Train Your Dragon}
  • Mais sobre o assunto: [Losing all our female characters to trinity sindrome]
Tropes
De seguida irei, por propósitos de providenciar um mini-glossário handy, definir no que consistem algumas das tropes mais conhecidas. Tropes são acontecimentos ou mesmo metáforas recorrentes em várias formas de mídia, que tendem a consequentemente criar preconceitos em quem as vê repetidamente através de tantas obras diferentes, pois contribuem para criar uma associação entre duas coisas que não têm correlação real nenhuma. Aqui, falo de tropes que relacionam o género e/ou sexo das personagens com outros fatores. É possível subverter tropes, questioná-las até, mas é quase impossível fugir completamente delas - já que é quase impossível ser devidamente original. Assim, o meu objetivo ao falar disto não é apontar tropes como algo inerentemente mau, nem mesmo falar da mensagem que as tropes transmitem - pois cada trope reflete algo diferente e não dá para falar de tudo. O objetivo é, porém, assinalar que tropes são mais comuns e se começam a tornar cansativas, e chamar a atenção de que modo é possível utilizar tropes sem criar personagens superficiais ou quase clonadas de outras obras que fazem uso dessas mesmas tropes. 

Lista de Tropes

A estrutura que isto vai seguir é apresentar o nome e definição da trope, um exemplo daquilo em que consiste e um exemplo de algo que é semelhante à trope mas não verifica aspetos cruciais da mesma e portanto não pode ser considerado um exemplo da trope.
  • Síndrome de Smurffete: O nome deriva do facto de a [Smurfette] ser a única smurf rapariga entre os smurfs, e representa precisamente casos semelhantes a esses: grupos de homens onde há uma única personagem feminina. No caso de trios ainda dá para fechar os olhos - afinal, a desproporção é mínima - mas é comum a quantidade de homens ser bastante superior a 2. Há até franquias e universos de obras onde há várias síndromes de smurfettes, ou seja, há várias personagens femininas que até costumam ser relevantes, mas não interagem entre si, estando isoladas nos seus respetivos grupos de homens - dá para encontrar vários casos desses dentro de {Star Wars}, mesmo nos filmes mais recentes, ou na {Marvel}, por exemplo nos grupos originais dos vingadores ou dos guardiões da galáxia. Mas há muitos exemplos disso, como os levantados por [este post], nomeadamente, ---. Não faz sentido falar de casos que parecem cometer esta trope mas não cometem, afinal a definição é bastante objetiva. 
  • Born sexy Yesterday: Consiste numa personagem feminina que é de alguma forma uma "raridade" sexy (não necessariamente incompetente) inserida numa situação onde tudo é novo para ela, muitas vezes incluindo o contacto com os homens. Daí ser bastante inocente e achar que o homem protagonista é espetacular, apaixonando-se por ele, quando na realidade este tende a não ter nenhuma caraterística - que faça mulheres achá-lo atrativo e costume ter problemas de personalidade. Normalmente essas raparigas são robôss recém criadas, aliens que vão parar a um novo planeta, mulheres tribais ou consideradas exóticas levadas para a sociedade do homem protagonista, etc... Essas histórias também tendem a ser narradas da perspetiva do homem, e a mulher raramente questiona o que ele lhe diz, incluindo o que lhe diz para fazer. Um bom exemplo de subversão dessa trope é a Alita, de {Alita: Battle Angel} (se não quiserem ver a [minha resenha], ao menos podem ver [este vídeo]  que fala especificamente do que interessa aqui).
  • Manic Pixie Dream Girl: Essencialmente é uma personagem feminina que existe com o propósito de fazer o protagonista masculino aprender, seja a apreciar a vida, seja a tomar decisões, seja a conseguir inspiração, seja a fazê-lo voltar a sentir emoções... são uma ferramenta ao serviço do desenvolvimento da personagem masculina, especialmente a nível do significado da sua vida. É comum essas personagens serem animadas, belas, energéticas, e persegue os seus interesses sem conter, vivendo todos os momentos com intensidade e insistindo em conseguir fazer o herói experienciar a vida da mesma maneira que ela. Eu podia listar exemplos, mas o [TV Tropes] faz um bom trabalho. É provavelmente das tropes que eu mais encontro em animes - quase todas as outras diria que são mais prevalentes em filmes e obras ocidentais em geral - e conheci-a precisamente por causa do anime "Your lie in April". 
  • Nice Guy: Normalmente, a trope do Nice Guy fica-se pelos amigos dos protagonistas que são pessoas com valores ligeiramente acima da média e competências moderadas, muitas vezes os primeiros a morrer e considerados desinteressantes pela maioria das pessoas, ainda que possam ter desenvolvimento e profundidade em algumas obras. Mas aplicada a esta questão de tropes que lidam com género, o Nice Guy pode ser também uma personagem que é rejeitade pela mulher de quem gosta e a mulher é vista como cruel por não ter retribuído os sentimentos de alguém que é tão simpático, ou que é constantemente protegido ou visto com a vítima da situação quando ofende/magoa alguém, porque o facto de os seus valores estarem para cima da média - nem que seja muito pouco - já é considerada uma caraterística excepcional e é considerado injusto julgar uma pessoa assim. Basicamente, a trope aplicada neste contexto refere-se a personagens cujos erros são desculpados pura e simplesmente por serem mais simpáticas que a maioria. E esses erros giram frequentemente à volta de fazer coisas que eles acham simpáticas a mulheres, contra a vontade delas [exemplos e análise aqui]. 
  • Politically Incorrect Hero: A única coisa em que consigo pensar ao escrever isto é no quanto me lembra um vídeo recente que vi das piores opções de diálogo de Dragon Age Inquisition, chamado [jerk inquisitor] xD Mas um herói desses é um pouco mais do que ser simplesmente um jerk. É alguém com opiniões controversas, quando não claramente discriminatórias, quanto a minorias, direitos e os problemas do mundo/sociedade, mas que sabe que pode continuar a tê-las porque as pessoas precisam de si. Nem todos os heróis destes estão cientes da sua postura horrível, e alguns estão mas não abrem mão delas por questões de orgulho ou por acharem que já não é nada mau serem melhores que a da personagem antagonista. E embora haja personagens mulheres com este tipo de atitude, normalmente são homens, especificamente homens que se enquadram noutras maiorias sociais, aka brancos, sem deficiências e tal... Há [vários exemplos] no tv tropes. 
  • Stuffed in the fridge: Basicamente consiste numa personagem que é querida para a personagem protagonista que é morta de uma maneira horrível, sendo deixada no frigorífico por quem a matou para ser encontrada. Costuma ser uma ferramente narrativa para forçar a personagem principal a procurar vingança. Conheço mais casos desses em comics do que noutras mídias, mas anyway, porquê que isto é considerada uma trope relacionada com género? Porque quase sempre são mortas as mulheres ou interesses amorosos de heróis masculinos, e neste ponto é difícil não associar uma coisa à outra, tanto que a trope às vezes é simplesmente chamada de [women in refrigerators] e usada para chamar a atenção para a frequência com que mulheres são brutalizadas, mesmo na ficção. 
  • Motherhood as ultimate goal: Ainda há imensas mulheres que crescem a ouvir que a vida delas não terá significado se não tiverem filhos, como se essa fosse a única/melhor coisa que uma mulher pode fazer. Há várias coisas que estão associadas à trope que seriam dignas de mencionar se tivesse mais tempo - como a ideia de que mães são melhores para os filhos do que os pais, ou de que mesmo mulheres que afirma que não querem ter filhos acabam por perceber que os querem mais tarde, ideias presentes tanto na realidade como em imensas obras - contudo, a trope em si é mais simples: consiste apenas em ter uma mulher que vê a maternidade como o seu grande objetivo de vida. E que, lá está, ajuda à prevalência da ideia que mencionei na primeira frase desta trope. 
  • Not like other girls: Todas as pessoas partilham similaridades, e têm diferenças entre si. Mas quando a maioria das personagens - no caso desta trope, femininas - são quase inexistentes e as que existem não têm profundidade nem desenvolvimento, muitas vezes resumem-se a estereótipos e uma delas - geralmente o interesse amoroso - é particularmente distinto, é fácil transmitir a ideia de que ela não é como as outras raparigas. Mas mais do que isso, a trope tende a reforçar esse facto fazendo essa frase ser pronunciada, ou pela rapariga em questão como forma de se afirmar e conquistar o protagonista masculino, ou pelo próprio, como forma de a reconhecer e explicar porquê que a ama. Essa ideia consegue ser problemática pela forma como reforça uma mentalidade que tantas mulheres partilham, de que todas as outras mulheres (incluindo várias supostas amigas) são [competição], superficiais e indignas de serem tratadas de forma especial ou reconhecimento. Mais informação sobre a trope no [tv tropes]. 
  • Abduction is love: Acho que o caso mais recente dessa trope que conheço, e que foge um bocado à premissa original, é do filme Passengers, e não consigo não recomendar [este vídeo] pela forma bastante completa como aborda a trope. Basicamente, esta consiste numa prsonagem - geralmente homem - que acaba por raptar outra personagem - geralmente mulher - pelos mais variados propósitos (incluindo o desejo de a proteger). No começo, a mulher desconfia dele e faz questão de deixar isso claro, mas com o tempo farta-se de protestar e até começa a gostar dele, que muitas vezes nunca lhe fez sequer mal... para além de a raptar e isolar. 
  • Never a self-made woman: Nesta trope, mulheres com qualquer tipo de conquista - especialmente a nível de carreira ou estatuto - nunca chegaram lá sem a ajuda de uma personagem masculina, com quem normalmente têm conexão emocional (familiar ou romãntica), que as treinou ou conseguiu dada posição. É essencialmente uma trope que tira um bocado o mérito das mulheres, e embora seja das tropes que tem mais nuances aqui pelo meio - começando a ser complicada mal haja mais do que um fator que levou a mulher a obter as suas conquistas, como no caso da Lena Luthor {Supergirl} - é [altamente comum]. 
  • Real women don't wear dresses: Ainda acho que o nome da trope devia ser "Can't take seriously women in dresses", porque quando há mulheres que aderem a graus variados de padrões masculinos e femininos, as mais masculinas - geralmente as que usam calças - são as mais competentes. E como o [tv tropes] diz tudo, aqui vai uma quote que mostra a implicação horrível de que masculinidade é superior e mulheres devem aderir a ela para serem levadas a sério: "It's not hard to spot the Unfortunate Implications: that traditionally feminine traits are worthless and women must "masculinize" themselves to be taken seriously. It takes the old prescriptivist gender roles and merely inverts them, creating a new prescribed gender role that female characters must adhere to or be shunned."
  • Standard Hero Reward: Imensa gente jogou Super Mário e sabe que um dos pontos de salvar a princesa é ficar com ela. Mas às vezes nem é preciso o protagonista masculino salvar a princesa - basta salvar o reino dela, e a princesa (ou uma das filhas do rei À escolha) é-lhe oferecida em casamento. Isso trata literalmente mulheres como objetos, prémios, presentes para os homens usarem. É das tropes que mais me irrita por ser das que menos humaniza as mulheres, por um lado, e talvez por eu ser vizinhe de Espanha, que era quase uma fábrica de princesas sempre que era preciso oferecer algo a outros países com quem queria alianças, algo bem claro nos livros de história e obras passadas nos períodos em que isso acontecia. 
  • Striperrific: A trope consiste essencialmente no facto de que as roupas de trabalho/ação femininas são sempre mais sexys que as dos homens, mesmo que na maioria dessas situações não só não faça sentido, como contraria os propósitos da personagem (tipo uma espiã meia nua em missões que requerem que não chame a atenção, ou as tais guerreiras em bikini-armors que eu já mencionei). Também há vários casos em que isso ocorre com personagens masculinas, mas normalmente esses casos fazem um pouco mais sentido. [tv tropes para exemplos]

Lista de dicas

Isto é essencialmente uma listinha de testes que ajudam a avaliar a qualidade da representatividade, começando pelo mais famoso. A linha divisória separa testes que dizem respeito a género de testes semelhantes para outros tipos de representatividade, só por curiosidade. Vale lembrar que passar estes testes não é automaticamente indicativo de boa representatividade, já que avaliam aspetos muito limitados. São apenas um ponto de partida, e podem ser considerados complementares. O grau de objetividade destes testes também varia bastante.

Embora grande parte destes testes pareçam exigências muito altas, a verdade é que poucas obras - especialmente filmes - falhariam os mesmos testes se fossem aplicados a personagens masculinas.

Algumas fontes: [www www www]
  • Bechdel test: Criado por Alison Bechdel como uma forma de desejar representatividade lésbica numa época em que todas as personagens masculinas tinham claro interesse por homens, acabou por ser usado para avaliar a representatividade feminina em geral, já que foca não na demonstração do desejo por mulheres, mas no distanciamento da ideia de maternidade e de existência feminina em torno da masculina. Uma obra passa o teste se 1) tiver pelo menos duas mulheres que 2) conversam uma com a outra 3) sem ser sobre homens (e/ou filhos)
  • Peirce test: Criado por Kimberky Peirce, foca na profundidade e empatia gerada perante personagens femininas, requerindo que haja pelo menos uma que 1) tem a sua própria história 2) é autêntica 3) a sua ação deriva da perseguição dos seus próprios desejos
  • Landau test: Criado por Noga Landau, foca no que uma obra não deve ter. Assim, os critérios para falhar o teste são ter uma personagem feminina que 1) acaba morta ou grávida 2) causa um problema para ser resolvido pelo protagonista masculino 
  • Mako Mori test: Inventado por Chaila, é uma variação da ideia do Bechdel, e consiste em ter 1) uma personagem feminina 2) com a sua própria narrativa 3) que não gira em torno de suportar a narativa de uma personagem masculina
  • Sexy Lamp test: Um teste satírico criado por Kelly Sue que vem da frequência com que personagens femininas não têm qualquer papel, basicamente uma obra falha o teste se der para substituir as personagens femininas com lâmpadas "sexys" e isso não afetar a ação ou os acontecimentos. Pois, de der, isso quer dizer que a personagem não estava lá a fazer mesmo nada... 
  • Ellen Willis test: Já é óbvio quem o criou, e o objetivo é chamar a atenção para o reforço de papéis de género. Basicamente, uma obra passa o teste se ao reverter o género das personagens  a história ainda fizer sentido. 
  • Tauriel Test: Criado por Jenn Northington, requer apenas que haja pelo menos uma personagem feminina que é competente naquilo que faz. 
  • Uphold test: Criado por Rory Uphold, requer apenas que 50% das personagens em cena sejam femininas. Ironicamente, quase nenhum filme passa, a não ser filmes voltados para o público feminino. 
  • Furiosa test: Criado com intenções satíricas após se notar na quantidade de pessoas que fica irritada com algo nas mulheres de um filme, basicamente passa se gerar polémica e pessoas zangadas por considerarem que tem políticas feministas. 

  • Racial Bechdel test: Idêntico ao Bechdel test, mas relativo a PoC (People of Color). Requer que 1) hajam pelo menos 2 personagens não brancas que 2) conversem uma com a outra e 3) que a conversa não seja sobre uma pessoa branca
  • Duvernay test: Uma personagem de uma minoria racial deve 1) ter uma vida "completamente realizada" 2) com os seus próprios desejos, sem ser guiada pelos desejos de outras personagens ou limitar-se a servir o desenvolvimento delas
  • Waithe test: Criado por Lena Waithe, para ser cumprido tem de haver uma mulher negra que 1) detém uma posição de poder e 2) está num relacionamento saudável
  • Villalobos test: Criado por Ligiah Villalobos, deve haver uma personagem principal latina que 1) deve ter elevadas habilitações literárias/escolaridade 2) falar inglês sem sotaque e 3) não ser sexualizada
  • Ko test: Criado por Naomi Ko, consiste na existência de uma mulher não-branca que 1) fala em pelo menos 5 cenas diferentes e 2) fala inglês
  • Deggans rule: Inventada por Eric Deggans, requer que uma obra que não seja sobre questões raciais inclua pelo menos duas personagens não-brancas entre as personagens principais.
  • Morales rule: Criada por Natalie Morales, pede que 1) ninguém chame ninguém de "Papi" 2) dance salsa e 3) utilize "espanhol gratuíto"
  • Vito Russo test: Criado pela [GLAAD], tem 3 requesitos: uma obra deve 1) ter uma personagem lgbt+ 2) com caraterísticas tão diversificadas como uma personagem cis-hétero, não sendo definido pela sua orientação e/ou género, e 3) afetar o enredo
  • Topside test: Inventado por Riley MacLeod e Tom Leger, é passado se existir 1) mais que uma personagem trans 2) que falem uma com a outra 3) sem ser sobre procedimentos médicos. 
Arte por [Choi]

Um resumo?

Não basta saber lutar como típicos heróis de ação masculinos para se ter uma boa personagem feminina - aliás, nem sequer dá para considerar isso um requisito. Porquê?
  • Porque há outras formas de demonstrar força, e essa pode ser até mesmo demonstrada por mães e mulheres em papéis tradicionalmente femininos
  • Porque uma personagem pode ser forte fisicamente mas ter um papel irrelevante ou poucas oportunidades de o demonstrar
  • Porque de nada adianta ter esse tipo de força se for dependente na maioria das situações (principalmente cenas que seriam cruciais para concluir os seus arcos de desenvolvimento) de outras personagens, especialmente de homens, reforçando a ideia de que o papel das mulheres é ser protegido e de que, por muito competentes que sejam a algo, haverá sempre homens que são melhores
Arte por [blooming flowers]
Contudo, mesmo essas questões não devem ser pintadas a preto e branco. Qual é o mal de ter relações complexas que envolvam dependência? Qual é o mal de ter personagens femininas que se apresentam esteticamente com traços/roupas femininas, ou o contrário? Todas as personagens femininas têm de ser relevantes para que se considere que estão a ser respeitadas? E força mental, não é força também?

It all comes down to writing. Acima de tudo, o problema não está no que é mostrado, mas sim na frequência com que QUALQUER ideia é reforçada. E se uma dada ideia se repete sempre com personagens do mesmo género, especialmente através de obras distintas, consequentemente as pessoas que a vêm começam a associar de facto essa ideia ao género.

Há 2 palavras chave que encaminham a escrita de personagens femininas para uma representatividade positiva: jornada, e diversidade. 
  • Se saber lutar não é suficiente, se calhar o problema não está na habilidade, mas na jornada e na razão que move a personagem, seja a lutar, a escrever, a ser mãe, a desvendar um certo mistério... a alcançar qualquer tipo de objetivo, really
  • Nenhum grupo é um monólito e mulheres não são exceção. É impossível captar a diversidade que existe entre mulheres numa única personagem, assim, a solução passa por ter várias personagens femininas e fazê-las interagir, de modo a confrontarem ou criarem laços com base nas suas similaridades e diferenças. Ah, e quando se fala de variedade, isso inclui variedade de fraquezas. 

Arte por [Mariana Avila]
A conclusão é basicamente o que eu já tinha dito no começo no post. Que boa representatividade, de mulheres ou não, nunca será conseguida colocando um modelo ou narrativa de personagem específico num pedestal, mas aumentando o número de representações de dado grupo, e diversificando-o. Tropes e estereótipos não surgiram do nada, e quem se enquadra neles não deve ser privado de representatividade ou ser considerado um "mau modelo". O problema não está no que há, mas no que não há. E respeito não se consegue ditando regras de convivência, mas mostrando a humanidade das pessoas de forma a gerar empatia. O respeito deriva disso. 

E se não derivar... é porque não adianta esperar nada dessas pessoas nem gastar o nosso tempo a explicar-lhes porquê que deviam respeitar. 

Coisas pessoais estão no post seguinte que vou fazer, e com um bocado de sorte publicar ainda hoje.

Eu tenho muitas novidades para contar, incluindo sobre o fim da faculdade (que ainda não interiorizei) e estar prestes a começar a trabalhar, o meu recente burnout, posts futuros que ainda tenciono trazer nesta última semana de férias, etc. Também gostava de visitar os vossos bloguitos, mas isso vai ser mais complicado... Talvez o faça aos fins de semana? Eu realmente espero conseguir ter algum tempo para mim depois de começar a trabalhar. Vamos ver como corre. O post anterior também fala de coisas que receio que ainda não leram, como a minha operação para deixar de usar óculos. Só não falo de nada disso aqui em detalhe porque o post já estava enorme, e será um milagre se lerem até aqui ;)

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8 comentários:

  1. YOOOOO ANY O/

    Caraí, ainda bem que tô férias pra ler esse post! Aliás, nem sei por onde começar a comentar, porque eu queria falar tanta coisa, mas ao mesmo tempo tá tudo meio bagunçado na minha cabeça hsuashuashuahsu

    ENFIM...

    Primeiramente: Eu acho que de maneira geral não existe uma fórmula mágica de "personagem forte", há várias formas de ser forte, sem mencionar que ninguém consegue ser forte 100% do tempo, então ao meu ver o que realmente torna um personagem forte e interessante são as várias faces que ele pode ter com o decorrer da história. Isso sim é interessante, é ver momentos de bravura, mas ver momentos de desgraçamento da cabeça também, é ver o personagem errar e aprender com isso, é poder apoiar alguém em um dado momento e no outro precisar de apoio.

    Segundamente: Sobre o início do post onde tu fala dos fãs da Capitã Marvel x fãs da Alita, a gente tem duas situações: 1) A pessoa desce a paulada na personagem por puro preconceito mesmo (tipo, geralmente porque a personagem não "obedeceu" um padrão "correto" de personagem feminina / versão de mulher) e 2) Fala que não curtiu a personagem por simplesmente não ser do gosto da pessoa (por exemplo, eu tenho a tendência de curtir muito mais personagens femininas mais enérgicas / fofas / animadas / "malucas" do que sérias a lá Mikasa de Shingeki No Kyojin).

    Além disso, há pessoas que acham que há "mensagem subliminar" em tudo, então podem ficar meio putas com tal personagem feminina por acharem que ela na verdade está sendo representada de certa maneira para espalhar um tipo de ideologia ou sei-lá-o-que (tipo a Capitã Marvel, no qual vi gente dizendo que ela foi muito forçada, só pra fazer charme para as feministas e talls).

    Mas também acho errado a galera que sai xingando quem não gostou da personagem feminina, pois muitas vezes é só questão de opinião / gosto mesmo, aí saem chamando as pessoas de "machistas / preconceituosos / só podia ser macho nerd cis hétero" ~vejo muito esse tipo de comentário shuashuahsuahusa~ / de mulher contra suas próprias causas" e por aí vai, quando na verdade é só questão de gosto mesmo.

    O problema é que tem gente que tenta disfarçar o preconceito com "é apenas gosto / opinião" e gente que acha que a pessoa é obrigada a concordar 100% com o que ela pensa / acha (principalmente quando envolvem obrar / autores / atores vindos de minorias), pois caso contrário, se essa pessoa expressar alguma crítica ela na verdade é preconceituosa, um monstro tentando justificar suas maldades no mundo e talls. OU SEJA, O PESSOAL NÃO TÁ SABENDO VIVER NO MEIO TERMO. Tem que ser OU BRANCO OU PRETO (o que eu costumo chamar de síndrome de zebra, porque OU é tal coisa OU é outra coisa).

    Okss, sinto que desvivei um pouco do assunto...

    Sobre as roupas, assino em baixo! Eu adoro ver personagens femininas com roupas bonitinhas e até mostrando um pouco das "curvas", acho charmoso retratarem os traços mais delicados que as personagens femininas possuem, PORÉM A ROUPA TEM QUE FAZER SENTINDO DENTRO DE UM CONTEXTO. Não dá pra mandar pra luta uma personagem feminina usando um biquíni de ferro porque ISSO NÃO FAZ SENINDO! Porém, acho bacana as roupas que mostram um pouco das pernas e braços, até porque com as articulações livres fica mais fácil se movimentar. POR EXEMPLO: Free (okkss, são personagens masculinos, mas a lógica é que tá valendo), é um anime claramente com um fanservice estratosférico, mas pelo menos é um fanservice que FAZ SENTIDO, os homi tão tudo de roupa de banho, mas é um anime sobre NATAÇÃO, então ok, é fanservice, mas tem lógica. O famigerado episódio da praia dos animes, é chato, é! É clichêsão, é! Tem um puta fanservice dependendo do anime, TEM! MAS FAZ SENTINDO, ali sim, tá de boas ter pouca roupa.

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  2. Aliás, sobre roupas de batalhas, um bom exemplo de armadura bem feita e que preserva o lado mais delicado da personagem é a armadura da Saber de Fate Stay Night (http://i.imgur.com/Bw4aGX2.gif), é bonito, tem seu ar delicado, e é uma armadura com lógica, protegendo as partes vitais dela. Além disso, a Saber é um ótimo exemplo de personagem forte multi-facetas: Ela tem força física, é independente, mas também tem um lado muito gentil e delicado, ou seja, ela sabe ser mais delicada nos momentos certos e mais dura também nos momentos certos....

    Apesar que eu sou ultra time Rin, que também é outro mulherão da série fate, também independente, inteligente, pode não ser tão forte quanto a Saber (pois é uma humana normal), mas é o cérebro da equipe, além de ser uma maga muito habilidosa e o melhor de tudo: AMBAS TEM SEUS MOMENTOS MOSTRANDO QUE SÃO TOP! Sendo reconhecidas por inimigos, aliados e também formando uma bela equipe as duas juntas.

    Ou seja, no final Fate UBW tem tudo o que tu disse: Personagens femininas com características distintas, pois tem a Saber que é mais quieta / reservada / gentil e a Rin que é mais enérgica / independente / sonhadora, ambas possuem seus momentos de glória, ambas são bem exploradas (talvez a Saber poderia ser mais, porém como ela é secundária, só na rota própria dela para ter um foco maior, porém ela tem suas pinceladas na medida certa em Fate Zero e Fate UBW) e ambas possuem uma boa interação entre elas (tanto que eu acho que a Saber fica muito melhor no time da Rin, fazendo dupla com ela do que com o Shirou).

    Confesso que na parte do simpatia, como já disse antes, prefiro as personagens que são mais "de boas", mais "pão com ovo", ou seja, que sabem ouvir e apoiar, aliás, acho que um exemplo ideal de personagem que fecha com todos os esteriótipos possíveis de "mulher ideal" é a Nagisa de Clannad, pois é alguém meiga, frágil, que dá apoio emocional ao protagonista, que é "pura" e talls. Porém, eu curto muito ela e curto muito Clannad, pois ele fez algo interessante nas suas duas temporadas: Na primeira temporada a Nagisa era muito dependente do protagonista (Tomoya) e ele era abordado como o cara gente boa que curte dar umas zoadas por aí, mas que ajuda a galera, e claro, a protagonista frágil. MAAAASSS, o interessante é ver como esses papéis se invertem, como aos poucos mostram o quão inseguro e frágil o Tomoya pode ser, principalmente sobre a vida e seu futuro e quão forte e pé no chão a Nagisa pode ser, se tornando uma espécie de porto seguro para o Tomoya (principalmente quando ela passa por uma gravidez de risco, onde ela passa a ser a "forte" da relação seguindo em frente com a gravidez, enquanto o Tomoya se afunda em ansiedade)

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  3. MAAASSSSS no quesito simpatia quem brilha mesmo É GINTAMA! Cara, eu poderia fazer um post sobre isso só usando GINTAMA! Porque Gintama sabe que o ser humano possui diversas faces, sendo uma mescla de coisas boas e ruins e isso que é o genial das personagens femininas desse anime. Porque elas tem manias estranhas, há momentos em que pensam em si mesmas, há momentos que mandam a galera se fuder, mas há momentos em que ouvem, em que crescem, em que lutam, são personagens extremamente carismáticas porque são humanas. Há personagens mais "molecas" como a Kagura, há personagens mais "sensuais" como a Tsuki, no qual tem dois arcos maravilhosos sobre ela e é uma personagem com um desenvolvimento muito interessante, pois ela trabalha no distrito da luz vermelha e tem toda uma questão sobre ela "abandonar" a sua parte feminina para proteger quem ela ama, porém ela aprende que não precisa negar completamente essa parte dela para ser forte. A Kagura, começou como uma garota moleca e amadureceu ao ponto de conseguir por fim aos problemas familiares que se arrastavam há anos, conseguindo reunir novamente o que restou da sua família. E são personagens que dão apoio ao protagonista de diversas maneiras, que recebem apoio dele também e que se apoiam uma as outras. Rola até piadinhas sobre competição e rivalidade, mas no final quando meche com uma meche com todas!

    Enfim, é um anime que sabe extrapolar muito bem os esteriótipos de "personagem masculino" e "personagem feminina", pois há personagens masculinos mais frágeis, uns até que correm atrás do seu amor (mostrando que ser sentimental não é algo só feminino), enquanto há personagens femininas que assumem um papel de maior força (seja física como a Kagura que é mó poderosa, ou "força de vida", como a Tae, no qual não possui nenhum poder / força física, mas é uma personagem forte, pois ao perder seus pais assumiu os negócios da família e cuida do seu irmão mais novo Shinpachi)

    Sobre o Dependência, isso me fez lembrar dos Joseis, que são ditos como "obras mais maduras", mas no final boa parte das protagonistas são tão retardadas quanto qualquer protagonista de shoujo meia boca. Ou seja, são personagens que dependem muito do boy magia e que qualquer desenvolvimento, por mais que os acontecimentos sejam ao redor da personagem feminina, ficam todos para o cara. Sem mencionar que a maioria termina em "casamentos arranjados", pois a única coisa em que ela é capaz de fazer é se casar com algum homem bonitão rico para apartar brigas entre clãs, ou salvar a família da miséria, ou pagar dívidas que tinha e talls.

    Esse é um dos problemas da dependência, quando ela parte somente de um lado e não acrescenta nada a personagem. Tipo, eu gosto de ver momentos mais frágeis do personagem, onde ele precisa depender de alguém (porque ser extraordinário sempre acaba perdendo a graça também, tipo o Sebastian de Kuroshitsuji, é um personagem legal, mas por nunca ter medo, insegurança acaba sendo meio meh, não acrescenta nada também). Então, é legal ver um momento de desgraçamento da cabeça, mas um momento que traga algum crescimento, como em Nodame Cantabile, na maioria das vezes a personagem é maluca e parece não saber muito o que quer da vida, porém ao conhecer novas pessoas, ao ver o boy magia dela sendo incrível, ela começa a sofrer alguns desgraçamentos da cabeça e começa a pensar em um outro futuro para ela, ou seja, ela passa a levar a música um pouco mais a sério. Então, há um certo desenvolvimento...

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  4. Ou então, a própria Yona que volta e meia tem que se apoiar nos seus amigos, mas graças a isso cresce cada vez mais e vai conquistando sua confiança e dependência. O problema é quando todo esse desenvolvimento é jogado fora, apenas para a personagem ficar servindo de trampolim para o macho para mostrar o quão bondoso e incrível ele é =/ (*coff* ITAZURA NA KISS *coff*, o pior q falo do anime, mas gosto e shippei pakas o casal :v)

    Na parte da sexualização, bato palmas para SNK, pois as mulheres ao mesmo tempo que são "mulherões", elas conseguem demonstrar esse lado sem serem sexualizadas. Tipo, cê tem a Mikasa que tem um ar mais sério, mais legal, tem uma pegada mais "sensual", porém em nenhum momento ela precisa mostrar o corpo ou ser sexualizada para isso. A pessoa sabe que ela é um puta mulherão sem a necessidade de cenas explícitas. Ou então, a Yatori de nejimaki seirei senki tenkyou no alderamin, ou a Riza de FMA, ou Tsuki (Gintama), ou a Hanako (Wotakoi), tipo são personagens que "exalam um ar sensual", mas sem a necessidade de se mostrarem, de haver alguma cena mais sensual.

    Não que tenha problema a personagem se expor mais, contanto que isso seja parte do background dela, aliás, um bom exemplo disso é uma personagem secundária das ovas de Darker Than Balck, no qual o "pagamento" que ela tem que realizar ao usar os seus poderes (pois nesse anime as pessoas que possuem poderes precisar fazer um "pagamento" para não morrerem) é ter que transar com alguém, então o design da personagem é todo sensual e ela se expõe bastante, porém há uma LÓGICA nisso tudo, é parte do background da personagem. Porém, o problema dela é que era apenas uma vilã de "passagem" então teve zero desenvolvimento (mas pelo menos, por mais que talvez o motivo tenha sido fanservice, havia uma lógica, sem mencionar que era uma personagem sensual e não sexualizada com cenas exageradas ou desnecessários, o que foi posto foi colocado da maneira certa no momento certo).

    Sobre saltos, tu viu o que tão fazendo no mangá de Boruto com a Sarada?????????? UMA CRIANÇA USANDO ROUPA CURTA, POSES SENSUAIS E SALTOS, SENDO QUE NEM A TSUNADE USA AQUELE TIPO DE SALTO. Aliás, eu sou o tipo de pessoa que tem pavor de salto alto, pelo amor de deus, que troço desconfortável, eu até tolero algum tipo de salto, contanto que não seja salto fino e nem muito alto (um "saltinho"), mas aqueles sapatos de salto alto, DEUS ME LIVRE!

    "certas personagens são especialistas ou que têm habilidades impressionantes em certas áreas, e nunca dão à personagem uma oportunidade para o mostrar" credo isso me dá uma raiva do CARALHO! Cansei de ver animes em que a personagem feminina tinha algum poder top ou habilidade, mas nunca exploravam isso, era sempre salva pelo boy magia e talls =/ Mas felizmente também já vi animes que souberam explorar muito bem essas hailidades como a Kurisu de Stains Gate, no qual aquela maluquice de viajar no tempo e resolver as merdas depois só foi possível por ela ser um prodígio na área. Ou Nejimaki Seirei, onde a protagonista feminina é ultra topzera em batalhas e o anime faz questão de mostrar o quão incrível ela é durante as lutas.

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  5. Faz uns dias vi esse termo "síndrome da smurfette" fiquei me perguntando que diabos era isso e cá está minha resposta hsuahsuahsashua

    Stuffed in the fridge, confesso que tenho uma certa queda por esse tipo de contexto, principalmente quando o boy é quem vai sofrer com a perda shaushaushuashua :v (foi um dos fatores que me fez curtir Steins Gate Zero, mesmo com a série de deslizes dele)

    Motherhood as ultimate goal, resumo de muito josei que já li por aí..."Bora lá, que tu só será uma mulher de sucesso se tu tiver um homem e filhos"


    ENFIM, de maneira geral eu acho que o povo pensa que há uma espécie de "molde" de mulher e que as personagens tem que seguir esse molde: Ou é a mina lacradora, que mete porrada e lição de moral (para contrariar a imagem de mulher imposta e talls) ou é a garotinha frágil que será o apoio emocional do macho, mas que terá zero desenvolvimento (o esteriótipo de mulher ideal). Quando na verdade não é nenhum desses dois, mas sim, uma mistura de ambos, podendo pender mais para um lado mais para o outro.

    Não há um conceito de "mulher forte", há apenas diferentes tipos de mulheres com diferentes tipos de força, não existe uma regra. A personagem apenas tem que ter um desenvolvimento interessante, o resto vai de acordo com a vontade do autor, ou seja, pode ser uma mina louca, uma mulher mais delicada, uma mulher mais filha da puta, uma mulher desgraçada da cabeça, uma mulher calma, uma mãe, uma médica, uma empregada, uma princesa, uma guerreira, pode ser qualquer coisa, pode ser várias dessas coisas ao mesmo tempo, uma pessoa delicada e guerreira, uma pessoa sensual e tímida, uma mãe que cuida dos filhos e nas horas vagas batalha... Cara, dá pra ser QUALQUER COISA, contanto que haja um desenvolvimento, que tenha relevância, não precisa nem ser protagonista, pode ser uma personagem secundária, mas que tenha o seu devido desenvolvimento, a sua importância na trama (queria falar de SNK, mas se tu não viu a terceira temporada seria um puta de um spoiler).

    ENFIM, TEM QUE SER UMA PERSONAGEM BEM ESCRITA, porque se é pra fazer coisa meia boca, então nem perca tempo!

    Bem, vou ficando por aqui ~sinto que queria falar mais ou citar mais algum anime, mas agora não me vem nada na cabeça~

    Kiss

    err........ Foi malss pelos textões......

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  6. Ok, é agora, eu vou responder!

    Então... eu concordocom quase tudo o que vocÊ disse, e aliás, acho que entendeu bastante bem a mensagem principal do post, e resume isso logo no seu primeiro parágrafo: "o que realmente torna um personagem forte e interessante são as várias faces que ele pode ter com o decorrer da história. Isso sim é interessante, é ver momentos de bravura, mas ver momentos de desgraçamento da cabeça também, é ver o personagem errar e aprender com isso, é poder apoiar alguém em um dado momento e no outro precisar de apoio". E por arrasto, isso aplica-se a personagens femininas.

    Ainda assim, este debate é importante porque nem sempre a maneira como as várias facetas das mulheres são retratadas pode ser equiparada à maneira como são mostradas as facetas dos homens. Lá está, muita gente dá-se por contente e quer que seja considerado que a personagem feminina de algo é forte o suficiente para compensar os momentos de fraqueza porque sabe dar paulada - mas não tem um papel relevante, desenvolvimento e tal - ou porque aguenta com muito sofrimento, enquanto que os homens fortes da mesma obra não têm essa faceta demonstrada assim.

    Além disso, eu concordo que imensas pessoas vêm mensagem subliminar em tudo, mesmo em coisas em que os autores/produtores/wtv não tencionavam passar mensagem nenhuma, MAS o facto de não haverem intenções de passar mensagens por trás de certa representatividade não quer dizer que não haja problema: muitas pessoas são preconceituosas sem saber, mas o facto de não terem más intenções nas as impede de discriminar. Por conseguinte, numa obra, lá porque alguém não quis passar certa mensagem, isso não anula a possibilidade de ser uma manifestação dos seus próprios preconceitos. E preconceitos nem têm de ser negativos (de facto, há preconceitos positivos - como o de que asiáticos são bons a matemática - mas ainda assim as consequências podem ser más - no caso do exemplo, essa noção podia ser usada para ignorar que uma pessoa asiática se pode ter esforçado bastante para conseguir ser boa a matemática, atribuindo mérito à etnia e não ao indivíduo)! Preconceitos são apenas noções pré-formadas, coisas que se assumem, sem pôr em questão se correspondem ou não à verdade pois sempre se ouviu dizer que eram verdade. Então se alguém retratasse todas as mulheres de uma obra de uma maneira específica, mesmo sem querer e sem querer passar "mensagens subliminares", isso não mudava o facto de que estava a reforçar uma ideia que não captava a realidade/diversidade do que é ser mulher. É má pessoa por causa disso? Não. Mas também não há razão para não ser confrontada com a discrepância entre as ideias que têm, a realidade e o impacto daquilo que fez.

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  7. E sim, eu também vejo muito isso do macho cis hétero, ou de culpar as mulheres que gostam de algo considerado "anti-feminista", e concordo que há pessoas que começam a mandar boquinhas dessas sem se dar sequer ao trabalho de tentar entender o que a outra pessoa está a dizer. Mas por um lado, compreendo que quando uma pessoa vê tantas coisas preconceituosas ser ditas, começa a perder a paciência para explicar porquê que estão erradas, ou para analisar o argumento e tentar perceber se a pessoa não tem salvação, está só a tentar transmitir a sua experiência ou se acha que a sua opinião é superior. Essas coisas demoram tempo e começam a desgastar mentalmente, tanto é que muitos ativistas acabam por em dados pontos ter de sair das redes sociais para parar de ler comentários tóxicos e conseguirem recuperar a sua saúde mental. Quem não o faz... well, nem sempre resposde da forma mais adequada. E por um lado, eu acho que as pessoas têm o direito a estar zangadas - especialmente porque ninguém devia ter a obrigação de fazer o trabalho de casa/pesquisa de toda a gente se quiser ser respeitada, respeito devia ser o default - mas é verdade que começar a insultar e não explicar as coisas não contribui em nada para as causas, e até consegue afastar pessoas que apoiariam a causa se não vissem atitudes assim. Aliás, adorei o nome síndrome de zebra >.< É uma questão complicada. Lida com sentimentos, com responsabilidade, com experiência própria vs experiência coletiva, com a questão de quantas categorias/divisões/experiências constituem a verdade sobre dado assunto, e até com leis, pois uma das razões de leis existirem é precisamente não haver tempo para se chegar a um consenso sobre cada situação conflituosa no dia a dia. E como é que o resolvem? Simplificando a situaçã e ditando comportamentos. São trememndamente imperfeitas, podem ser injustas, mas são também uma necessidade, e úteis na maioria dos casos.

    Concordo com o que você disse sobre dependência, sobre roupas e sobre o ponto da simpatia :)

    Gostei bastante dos seus exemplos, até porque me estão a fazer tomar vergonha na cara por não ter visto imensos animes famosos hahaha Eu ainda não vi a terceira temporada de SNK, EU SEI que devia, talvez veja antes do fim de 2019... Já Gintama, Fate e Clannad vão ter de esperar, são muito longos para o tempo que tenho de momento.

    Volte sempre e traga mais textões consigo! ;)

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  8. Queria responder o seu comentário, mas aí seria sacanagem contigo shaushuahusa, então só vou dizer que assino em baixo em tudo que tu disse e adorei as explicações mais detalhadas O/


    "tanto é que muitos ativistas acabam por em dados pontos ter de sair das redes sociais para parar de ler comentários tóxicos e conseguirem recuperar a sua saúde mental".... Mano, eu que nem sou ativista nem fico muito em rede social já pra não me estressar, imagina quem manja mais dessas coisas e todo santo dia tem que lidar com tretas (é por isso que só tenho o twitter para surtar de imediato com otaquices, e olha que até lá rola quebra pau '-')

    "Então se alguém retratasse todas as mulheres de uma obra de uma maneira específica, mesmo sem querer e sem querer passar "mensagens subliminares", isso não mudava o facto de que estava a reforçar uma ideia que não captava a realidade/diversidade do que é ser mulher" Isso me faz lembrar de algumas mangakás meio famosinhas (pelo menos uns tempos atrás eu via bastante gente fã de shoujo / josei panfletando os mangás delas), no qual as protagonistas sempre seguem o padrãozinho "Sou uma mulher """""""""forte"""""""""""" mas no final estou sempre dependendo do meu macho que é INCRÍVEL" (mangaká de Hapi Mari, mangaká de Kyou, Koi wo Hajimemasu ~essa nas obras antigas chega até ter problema de romantização de abuso.... CARAÍ NÃO QUEIRA SABER O QUÃO ERRADO É O MANGÁ DELA MITSU X MITSU DROPS)

    Dos animes, eu te recomendo MESMO SNK! Até porque há um puta desenvolvimento em certos personagens E UNS PLOTS MUITO LOUCOS (e Levi roubando a cena como sempre <3). Já os outros, confesso que não daria tanta prioridade porque talvez possa não fazer muito teu estilo, afinal Clannad é anime de harém com drama e um protagonista gente boa ajudando a galera. A virada mesmo no desenvolvimento rola na segunda temporada (mas pelo menos é um elenco carismático e as histórias de drama das garotas são bacanas). Já Fate é interessante porque tu acompanha uma guerra entre magos e a partir disso tu vê como a vida de todos é fudida e os motivos que cada um tem para estar nessa guerra (sendo que Fate Zero é mais denso, enquanto Fate UBW tá mais pra shounen, mas é um shounen com uma pegada um pouco mais séria também.... O único problema de Fate UBW é que tem uma cena envolvendo a Saber que é claramente fanservice desnecessário, de resto é um shounen que tem seu enredo mais sério a lá "a vida é fudida, mas bora seguir em frente.... Ou pelo menos tentar", mas que há momentos que ele nos lembra que é um shounen. Mas é show! Bom, pelo menos eu achei bem topzero)

    Já Gintama, mesmo sendo meu xodó do coração eu tenho a plena consciência que não é todo mundo que tem paciência pra acompanhar trocentos ep de piada nonsense até chegar os arcos mais sérios. É um anime bem peculiar que pode desmotivar bastante no início se a pessoa não curtir o estilo de piada. MAS é um dos poucos shounens da shounen jump que se preocupa em desenvolver DE VERDADE as personagens femininas e que não sexualiza elas.

    Okkks eu prometi que não iria comentar muito a tua resposta, mas me empolguei e comentei mesmo assim :v

    Kiss

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