{resenha} Coco


Ando a voltar a escrever fanfics e fics originais, e sinceramente já sentia falta da sensação de escrever em algum dos meus cadernos e de sentir as palavras fluir na minha cabeça, ou ver cenas futuras a amontoarem-se enquanto eu tento escrever as primeiras cenas à pressa para aproveitar enquanto estou inspirade para escrever tudo o que conseguir... E inspiração não me tem faltado. Mesmo sentindo que perdi um pouco a prática e que já não tenho tanto jeito para caraterizar a envolvência toda - a não ser qe me concentre bastante - acho que perdi a habilidade de intercalar descrições com ação sem quebrar o ritmo da escrita. Ainda assim, gosto do que se está a desenrolar. 

Prometido é devido, e como post especial de hoje, trago a resenha do filme de animação perfeitinho que vi há dois dias: Coco. Obviamente, os spoilers serão assinalados.

Parte técnica:
  • Nome do filme: Coco | Viva - A vida é uma festa (no Brasil)
  • Estúdios: Pixar, Disney
  • Estreia: 2017
  • Diretor: Lee Unkrich
  • Animação e arte: Computarizada, fluída, pessoalmente achei que tinha muito bom gosto, não sendo muito diferente dos trabalhos desses estúdios, sendo que os traços se pareciam particularmente com os de Moana. A palete de cores é suave mas tem destaques de cores vibrantes, muitas cores mesmo, perfeitas para remeter para o México. A ambientação vívida e familiar é agradável, e há vários momentos em que são as imagens que contam a história, em vez das palavras. As cidades também são muito bem feitas, uma delas fiel ao México, e a outra, a do mundo dos mortos, parecendo saída de um dos filmes do Studio Ghibli, no qual o produtor se inspirou. 
  • Trilha sonora: Um filme que fala sobre música não podia ter uma má trilahsonora, e de facto este não tem. Mas as músicas mais adoráveis ainda são aquelas em que o protagonista canta, que contagia com a emoção que ele está a sentir. 
  • Elenco: Para além de eu ter adorado as vozes, uma curiosidade interessante é que todo o elenco é bilingue, falando inglês e espanhol. Portanto, as vozes que constam na versão inglesa do filme são as mesmas que constam na versão espanhola. 
História e resenha
Para começar, contexto: A história retrata uma aventura de Miguel Rivera, um rapaz Mexicano que queria ser músico como o seu tetravô, mas a família passara a proibir qualquer forma de música quando o tetravô tinha abandonou a mulher e a família para fazer música pelo mundo... e nunca mais voltou, sendo renegado da própria família. No Dia dos Mortos, Miguel descobriu que na foto onde o rosto do tetravô estava rasgado, o homem usava uma guitarra igual à de um músico, De La Cruz, que ele tanto admirava, concluindo que era seu descendente e que estava na altura de agir. Decidiu que queria participar num concurso de música e começar a sua carreira, mas como a sua família lhe tinha destruído a guitarra, tinha de arranjar alguma com que participar. É ao tentar arranjá-la... que entra no mundo dos mortos por acidente. Lá, ele descobre que só os mortos que têm a sua foto exposta podem visitar o mundo dos vivos, que eles desaparecem (têm a morte final) se nenhum vivo se lembrar deles, e que para ele voltar ao mundo dos vivos precisaria da benção da sua família. O problema era que a sua família morta também não queria que ele fizesse música e, para dar a sua benção, podia impor as condições que quisesse - condições que, se quebradas, fariam Miguel voltar o mundo dos mortos. Se Miguel aceitasse, não poderia mais fazer música - porém, se não aceitasse até ao nascer do dia, passaria a pertencer ao mundo dos mortos. E foi assim que ele teve a ideia de procurar pelo seu tetravô, que lhe poderia dar a sua benção sem o proibir de fazer o que amava.

Ok, eu tenho tanta coisa para dizer. O filme tem tudo aquilo que se espera de um filme de família: lições morais, comédia, um senso de aventura, laços relevantes entre várias personagens e um desfecho satisfatório.

Para começar, temos representatividade étnica e racial, já que não é em todo o lado que se vêm personagens Mexicanas - e com o Trump a falar tão mal do México, é até um bocado ousado desafiar (pura e simplesmente através da humanização) a visão xenofóbica cada vez maior da América. O dia dos mortos é uma época de festividade na cultura mexicana, onde crianças se disfaçam de mortos e onde se acredita que os mortos vão visitar a terra, sendo deixadas oferendas para eles - afinal, é a época em que se acredita que a família ficará toda reunida. Oh, e falam imensas vezes em espanhol! O que também não se vê em todo o lado. Embora eu não saiba o suficiente sobre a cultura Mexicana para criticar, de facto o ambiente festivo foi bem captado, e até agora ainda não vi opiniões negativas em relação à representatividade. Positivas, por outro lado, já vi, da parte de pessoas com alguma ligação à cultura mexicana mesmo.


O mundo (ou é um universo?) dos mortos, por outro lado, é rico o suficiente para nos fascinar durante a maior parte do filme. Pela aparência dos mortos e pela forma como eles se desmembram e reconstroem facilmente, pela animação, pela sua cultura e regras, pelos animais guardiões... Até pela desigualdade social onde é chocante como os edifícios altos e coloridos - das pessoas famosas em vivas e lembradas na outra dimensão - contrastam com os bairros cinzentos e que passam desapercebidos no meio de tanta grandiosidade - das pessoas que estão a desaparecer por não ter ninguém que se lembre delas. E é interessante como mesmo o mundo dos mortos em si - que podia ter mortos de todo o mundo - foca em aspetos ícones mexicanos, como a Frida Khala (fazendo uma caricatura dela, mas ainda assim) ou mesmo a aparência dos edifícios, inspirada em Guanajuato, de acordo com [esta resenha]. Damn, até há quem entenda a regra que impede a travessia para o mundo dos vivos (se não tiver a sua foto exposta lá pela família) como uma crítica ao controlo da imigração do Trump. Embora o produtor diga que foi coincidência e que Coco começou a ser pensado 6 anos antes do filme sair, nas [palavras dele], foi uma "feliz coincidência".


O enredo foi verdadeiramente bem trabalhado, do início ao fim, e com cenas muito bem divididas. Num primeiro momento temos o confronto de Miguel contra a sua família e a exposição de tudo o que levou a esse ponto, depois temos a descoberta do mundo dos mortos e a procura pela restante família de Miguel, e por fim um Plot Twist que introduz a cena final, acompanhado de uma corrida contra o tempo. Aliás, há mais do que um plot twist, e eu em parte consegui prevê-los, mas não deixam de ser todos bem feitos e de afetar drasticamente a história). O último deles afeta precisamente a visão que o protagonista tinha de De La Cruz, o seu senso de identidade e a sua visão do que seria correto a fazer. No fim, tudo acabou esclarecido, em paz, e justiça foi feita.

O filme também aborda o poder da música. Não só enquanto um sonho que não deve ser tirado, mas enquanto forma de comunicar e passar mensagens que de outra forma não seriam transmitidas. Embora eu ainda ache que !SPOILER - selecionar branco para ler! curar a Coco de Alzheimer seja um exagero, e receie que esteja a desrespeitar um bocado pessoas que vivem com essa doença e quem toma conta delas !FIM DO SPOILER!, foi bonito ver o papel que teve, e a maneira como isso impelia a história a continuar. Sem a música, muitas cenas teriam ficado encravadas, e até quem desprezava musica acabou por ter de reconhecer o seu valor. Se é possível mover a trama sem ser através do romance? Sim, sem dúvida, e quero mais filmes assim!


Também gostei da lição sobre como a família não tem o direito de cortar as asas a alguém. Por um lado, porque filhos/netos não são posse da família e, por outro, porque família sem apoio não é lá grande coisa. Então é verdade que no fim o Miguel voltou a aceitar a sua família, mas não antes de esta o aceitar verdadeiramente, nem sem esclarecer os mal entendidos ou as acusações falsas. E não são todos os filmes que mostram que a família é que pode estar errada... Nesse sentido, o protagonista consegue refletir muitas crianças - não apenas crianças mexicanas - pois apela a todas aquelas que querem ser algo a que a sua família levanta obstáculos.

Ah, e uma nota final importante: O filme pode ser um bocado perturbador para crianças mais pequenas ou particularmente sensíveis. Há crianças que ficam perturbadas com o facto de a família de Miguel gritar com ele e impor a proibição da fazer música. O plot twist também envolve traição de amizade e assassinato, portanto não é algo com que todas as crianças saibam lidar. Também não é um filme muito fácil de digerir para pessoas que perderam alguém querido recentemente. Não, do que vi em reviews não é o mundo dos mortos que as incomoda xd


Esta resenha foi mais curta que de costume, daí eu não lhe ter chamado uma "mega-resenha". Mas apenas por uma questão de tempo, pois tornou-se um dos meus filmes favoritos de animação de todo o sempre. Feito com muito amor aos detalhes, sensibilidade e cuidado técnico. Só que é tão sensível que algumas pessoas poderão ser apanhadas de surpresa...

Amanhã volto com a coluna diária ^^
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