Zero waste: guia inclusivo


Prometido é devido, e aqui está o meu guia gigantesco zero waste (zero desperdício) inclusivo.

Se há alguma coisa que deve ficar clara aqui, é que as fábricas são as maiores responsáveis pela poluição do planeta, e o post não se destina a culpar indivíduos por não conseguirem salvar o planeta sozinhos nem por ficar frustrados com tentativas falhadas. Contudo, pretendo encorajar toda a gente a considerar o impacto que as suas ações podem ter, principalmente se toda a gente for gradualmente aderindo às políticas dos [5 R's]: Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar e Recusar. Uma pessoa sozinha pode poupar até que chegue para todo o lixo que produz no ano caber num frasco, enquanto que em média uma pessoa em Portugal produz 460 quilos de lixo no mesmo espaço de tempo.Tal como muitos blogs zero waste afirmam, "Não é uma questão de atingir a perfeição; É uma questão de fazer escolhas melhores"

Mas... e quem não pode escolher? Nem toda a gente pode abdicar das palhinhas de plástico, como eu disse [aqui]. Nem todas as alternativas que os grandes blogs* zero waste sugerem funcionam para toda a gente. Para fazer este post, eu escolhi algumas questões relevantes para aderir a uma política zero waste e enumerei tantas alternativas quantas consegui encontrar, com o único objetivo de dar a conhecer um número mais vasto de opções e de incentivar as pessoas a adotar medidas dentro das suas possibilidades - não com o objetivo de policiar ou envergonhar as atitudes de ninguém. Salvo pessoas que estejam totalmente dependentes de outras, toda a gente pode controlar minimamente as suas ações, daí eu querer neste post sugerir coisas acessíveis que muita gente não sabe que pode fazer. Como a minha mãe diz: "Quem faz o que pode, a mais não é obrigado."

*diga-se de passagem que estes tendem a ser geridos por mulheres com tempo e dinheiro para mudar os utensílios que usam, correr montes de lojas à procura das melhores e fazer DIY de tudo e mais alguma coisa, desde comida a produtos de limpeza e higiene



Créditos: 





Coisas que o post tentará ter em consideração:
  • Que o plástico é, apesar de "maléfico", importante para muitas pessoas com deficiências de vários níveis, e evita que elas esgotem as poucos colheres* que às vezes lhes restam. 
  • Que certas condições financeiras podem ser um fator bloqueante.
  • Que nem toda a gente se pode deslocar a mercearias ou centros comerciais que providenciam produtos a granel e afins, e nem todos os locais investem na preservação do planeta conjuntamente com a acessibilidade do local.
  • Que questões trans podem ser um obstáculo na hora de escolher produtos de higiene e menstruação melhores para o ambiente.
  • Que muitos itens ou alimentos sugeridos por políticas zero waste têm de ser encomendados online, e tal nem sempre é viável para pessoas com dificuldades visuais ou outras, dada a falta de acessibilidade das páginas
  • Que nem toda a gente está em posição para preparar refeições, e portanto pode ter de recorrer a alimentos pré-preparados e até pré-cozinhados
  • Que há pessoas que pertencem a grupos sociais desproporcionalmente afetados por injustiças sociais, entre as quais pessoas BIPOC (Black Indigenous People of Color), e que a maioria dos blogs zero waste pode alienar um bocado as suas experiências e dificuldades acrescidas - ironicamente, dado que pessoas negras às vezes são as mais desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas.
  • Que não só é importante proteger o meio ambiente como também as espécies que habitam o planeta.
Nem sempre será possível dar de facto uma solução e, em muitos dos cenários, a "solução" não será tão perfeita como a alternativa para quem não tem limitações. Isto dito... Alguns blogs que encontrei que contradizem a ideia de que só mulheres brancas conduzem o movimento: [Olivia | Hajar Moujib]

Se quiserem saber mais sobre a metáfora das colheres, não ter colheres basicamente significa não ter energia para fazer mais nada. Se quiserem saber mais sobre o assunto, [aqui está] a origem da expressão. 

Agora sim, vamos ao post!

Jarras com frutos secos vistas de cima. Foto retirada de: [www]
Masterpost: alternativas ecológicas para quem tem possibilidades diferentes

Sacas e embalagens plásticas:

Sacas de plástico

Todas estas soluções implicam que a pessoa leve as suas próprias sacas. Dentro do meu conhecimento, isso não é um obstáculo para ninguém (mas corrijam-me se estiver enganade) - mesmo pessoas que se esquecem de certas coisas podem adquirir o hábito de andar sempre com sacas reutilizáveis ou mantê-las em lugares que visitam bastante (seja o carro, o trabalho,...). A dificuldade está no funcionamento dos supermercados e lojas que nêm sempre permitem que os alimentos e afins sejam pesados na caixa, exigindo que se utilizem as sacas fininhas disponibilizadas (nomeadamente, para a fruta e os legumes), com etiquetas colocadas após pesar os itens. Daí as alternativas seguintes terem as suas limitações:

0. Não usar sacas: Não há muito a dizer. Se os itens forem poucos, não houver necessidade de sacas etiquetadas e for possível transportar os itens assim, é sempre uma opção.

1. Sacas de pano: Literalmente usar sacas de pano em vez das sacas disponibilizadas pela loja/supermercado

2. Sacas de rede: A mesma coisa que com sacas de pano. Contudo, estas são mais adequadas para transportar coisas que possam escorrer água, como legumes ou alguns produtos tirados do congelador, dado que sacos de pano podiam ficar molhados. Onde arranjar sacas de rede? Os próprios sacos das batatas podem ser reaproveitados, na verdade. 

3. Imitações de sacas de plástico: Não me parece algo tão viável para ser feito por indivíduos, mas algo que eu quis destacar como alternativas que podiam ser adotadas pelas próprias empresas/lojas/supermercados. Há alternativas eco-friendly para sacas de plástico feitas de, por exemplo, [casca de batata].

4. Sacos de papel: A maioria das sugestões que vi menciona [papel kraft], que é resistente e degradável. Ainda assim, apesar de ser degradável, não é uma alternativa tão fácil de obter e implica matar árvores.

Embalagens

Família que abriu loja zero waste.
Foto de: [www]
1. Compras a granel: Para quem não sabe, comprar a granel consiste em levar os próprios recipientes de casa - muita gente leva frascos de vidro, mas qualquer coisa que não vá para o lixo serve, incluindo estes [sacos próprios] - para transportar tudo o que sejam grãos, hidratos e frutos secos: feijão, arroz, massa, nozes, até especiarias e detergentes! O problema é que, para além de uma pessoa ter de ir preparada para comprar (dado que tem de levar os recipientes), não há muitas lojas nem supermercados preparados para isso, pois é preciso haver um sistema de peso preparado (já que as pessoas levam a quantidade que quiserem e há que considerar o peso do recipiente), a loja tem de ter recipientes que permitam a uma pessoa retirar o que quer. A primeira foto [deste artigo] ilustra bem o que é uma loja devidamente preparada - monstes de contentores com alimentos que saem rodando uma torneira (se bem que um botão seria mais acessível... mas pelo menos essas lojas tendem a ser acessíveis a cadeiras de rodas e os contentores com alimentos estão a uma altura aceitável). Portanto, isto é adequado para:
  • Pessoas que têm meios para se deslocar às lojas que vendem a granel. Em Portugal, estão todas indicadas [aqui].
  • Pessoas que têm como transportar consigo recipientes - embora ese requisito não seja obrigatório, dado que alguns produtos não requerem embalagens e podem simplesmente ir num saco. Ou seja, mesmo que os supermercados possam não permitir a reutilização de sacos, só a redução do desperdício de embalagens já é uma melhoria. 
  • Pessoas que consigam lidar facilmente com os recipientes que usam (caso sejam usados recipientes, claro está). Por exemplo, os frascos de vidro podem oferecer dificuldades a abrir a tampa, mas há embalagens plásticas que até podem ser reutilizadas e contornam essa dificuldade.
  • Pessoas que não querem ir às compras muitas vezes, já que comprar a granelo permite trazer exatamente a quantia desejada.
  • Pessoas em cadeiras de rodas de maneira geral, entre outras com deficiências que não restrinjam os movimentos dos braços (em termos de altura, como disse, os produtos são até mais acessíveis do que as estantes altas nos supermercados)

2. Evitar embalagens (individuais): Nem sempre é viável evitar embalagens de plástico, seja porque o produto que se quer não vem a granel, seja porque as embalagens não-plásticas apresentam dificuldades de abertura que não as tornam funcionais para pessoas que, por exemplo, não consigam fazer movimentos rotativos ou força, ou que prefiram salvar a sua energia para coisas mais importantes. Por exemplo, [este post] é um exemplo triste de uma discussão que, ao atacar o uso de embalagens plásticas onde vinham laranjas descascadas (ou seja, comida saudável sem a dificuldade adicional de ter de ser descascada e portanto acessível para pessoas com deficiências), a marca mudou a embalagem para potes de vidro, perdendo o seu propósito devido à dificuldade que é para tanta gente abrir frascos. 

Isto dito, mesmo não sendo possível evitar o plástico de todo, pode ser viável evitar conjuntos de embalagens individuais. Por exemplo, há várias marcas de pão-de-leite, contudo enquanto que algumas embalagens são uma saca plástica com vários pães lá dentro, outras são uma saca que contém vários pães embalados. Portanto, evitar embalagens ou pelo menos produtos embalados individualmente é bom para...
  • Pessoas com pouco dinheiro, dado que quando um mesmo produto pode ser comprado embalado ou por embalar, o primeiro caso é mais caro, especialmente se vier com alguma preparação especial
  • Pessoas que não necessitem de embalagens de todo, ou que não tenham necessidade de embalagens individuais. Algumas pessoas poderão querer transportar, no caso do exemplo dos pães, um pão para comer em algum lado e não ter energia para o embalarem por si. Mas se for só para comer em casa, uma embalagem única poderá perfeitamente servir.
  • Pessoas com meios financeiros para comprar equipamento que lhes permita preparar a própria comida, dispensando a necessidade de a comprar preparada e embalada a partir desse ponto.
Nota: Para quem não consegue, por razões financeiras, pagar eletricidade e portanto não cozinha em casa, nem sempre compensa comprar coisas pré-cozinhadas ou outro tipo de comida que pode ser ingerida tal como vêm, muitas vezes em embalagens que seriam de outro modo dispensável. É possível fazer um fogão de campismo em casa praticamente sem custos, e usá-lo ocasionalmente - [tutorial].

3. Embalagens amigas do ambiente: Há certas embalagens específicas pensadas para serem biodegradáveis, e algumas delas são até de fácil utilização, não oferendo dificuldades a quem tenha limitações físicas. Alguns exemplos: [green depot | newton | butter better (a tampa é uma faca reciclável) | *falo de produtos de beleza mais em baixo*]. Portanto, se não dá de todo para evitar as embalagens, pode sempre ser viável ser seletivo quanto às mesmas: Isto é adequado:
  • Para quase toda a gente, sempre que está disponível, não sendo geralmente sequer mais caro que embalagens normais
  • Para toda a gente caso as embalagens também considerem a questão da acessibilidade e a facilidade de uso

4. Recargas: Há vários produtos em que a própria marca suporta que se encha a embalagem mais do que uma vez - eu vou falar especificamente de produtos de beleza e higiene mais à frente, aliás. Mas esta alternativa vale para muitos produtos distintos - incluindo água, sendo que cada vez mais companhias fazem um esforço nessa direção. Não é algo excessivamente fácil de encontrar, mas quando se encontra, há que aproveitar. Adequado para:
  • Pessoas a quem a embalagem original e reutilizável é acessível
  • Pessoas que têm como se deslocar aos locais onde as embalagens são "refillable".

5. Serviços de entrega de refeições éticos, eco-friendly e saudáveis [www]: Esse link avalia em vários níveis serviços de entrega que se enquadram por razões disntintas nessas caraterísticas. Assim, não só a pessoa que encomenda está a comer de forma saudável, ainda pode evitar as embalagens dos alimentos, dificuldades de transporte e escolher evitar comer, por exemplo, carne. Os obstáculos podiam ser questões financeiras ou de comunicação - não sei até que ponto pessoas com ansiedade ou assim se sentem à vontade para recorrer a serviços de entrega. Adequado...
  • Para quem tem dificuldades físicas e já tende a gastar mais dinheiro com alimentos pré-preparados
  • Para quem não tem muito tempo para preparar as suas próprias refeições da maneira que desejava, mas tem possibilidades financeiras para recorrer a esses serviços constantemente
  • Para quem consegue navegar nas páginas em questão, sem ter entraves de acessibilidade, e sabe encomendar online

Kits com loiça e afins:

Kit zero waste. Foto de: [www]
É com a loiça e complementos que muitas pessoas realmente produzem lixo 100% desnecessário, e onde não podem culpar as empresas de lhes estar a vender produtos pouco sustentáveis. Portanto, eu vou sugerir alternativas em relação a várias coisas - loiça, palhinhas, garrafas de água... - mas vou tentar relembrar porquê que não são viáveis para algumas pessoas. E que fique claro: o facto de alguém não poder usar nenhuma das alternativas não é razão para 1) quem pode, não as usar 2) as envergonhar ou acusar por isso 3) questionar as suas razões. Isso aplica-se ao post inteiro, sinceramente...

Palhinhas (no brasil diz-se canudos?)

Sim, algumas pessoas precisam mesmo de palhinhas de plástico, e portanto não devem ser banidas (alguns governos querem banir especificamente palhinhas de plástico). Destacando o que foi dito [neste vídeo] por uma ativista dos direitos de pessoas com deficiências, se os restaurantes/cafés/bares fornecerem palhinhas de outros materiais para quem quiser, e tiverem palhinhas de plástico guardadas especificamente para quem as solicitar, quem não precisa vai contentar-se com o que lhe é dado e isso já reduz significativamente a quantidade de plástico. E eu sei que algumas pessoas diriam que se podia na mesma banir palhinhas de plástico nos restaurantes e quem precisasse podia trazê-las de cada, mas nem toda a gente se consegue lembrar de o fazer, e depois acabaria por não ter como beber na mesma. Seja como for, há materiais alternativos aceitáveis para muita gente, como...

1. Bambu: Sao muito resistentes e podem ser usadas com qualquer bebiba, sendo provavelmente a melhor alternativa para quem não precisa de plástico. Porém, são duras e podem magoar algumas pessoas.

2. Metal: Para além de duras e poderem magoar algumas pessoas, não podem ser usadas se a bebiba estiver muito quente - podendo queimar a boca - ou muito frias - podendo colar-se à boca/língua, como acontece com gelo.

3. Biodegradáveis: Não podem ser usadas abaixo de dadas temperaturas, porque se decompõem, e fica mais dura com bebidas frias. Algumas são comestíveis. Não deixa de ser uma solução adequada para muita gente...

4. Papel: Desfazem-se após algum tempo e, não sendo comestíveis, algumas pessoas correm o risco de não perceber que elas se desfizeram e comê-las ou mesmo engasgar-se, e é sempre possível não acabar a bebida a tempo

Garrafa de água

Antes de tudo, sim, há pessoas que utilizam a garrafa de água plástica mais do que uma vez - mas não é grande ideia porque ela vai contaminando a água, e deteriora-se ainda mais depressa se for exposta ao sol [fonte]. Em todo o caso, acabará para ir para o lixo mais cedo ou mais tarde, e portanto deve ser substituída. Portanto, as alternativas são...

1. Garrafa/copo fechado/frasco de aço inoxidável: São as mais usadas e, diga-se de passagem, mais bonitas. Olhem só para este modelo moderno: [www]. A abertura tende a ser simples. Também são resistentes a quedas e tudo o mais. Adequadas para...
  • Toda a gente, desde que tenham dinheiro para comprar (vale lembrar que é uma compra para a vida toda). 

2. Garrafa/copo fechado/frasco de vidro: Pode parecer uma má ideia dado que o vidro parte com o impacto, mas se for comprada com o propósito de transportar água com as pessoas no dia-a-dia, normalmente vêm com uma proteção à volta. Não é tão bonito, mas é igualmente eficaz. Quanto a quem não quer gastar dinheiro, normalmente há frascos de vidro que se podem aproveitar de casa. Adequadas para...
  • Quem consegue lidar com uma abertura mais complicada e rotativa (rolhas ou tampas que abrem ao rodar)
  • Quem não tem dinheiro para estar a comprar uma garrafa própria.

Pratos, copos e talheres de plástico

É provavelmente onde a maioria das pessoas que não necessita de loiça descartável produz lixo, e nem sequer tem a desculpa de que é difícil encontrar alternativas ou de que a maioria das empresas/marcas/whatever dos produtos que gosta ou precisa não sã ecológicas, sendo uma questão totalmente independente. Muita gente usa pratos de plástico em casa sem qualquer razão para além de não ter trabalho a lavar a loiça, e ainda se vangloria por gastar menos água!

1. Ter um kit transportável: Normalmente esses kits são constituídos por uma saca reutilizável, contento algo que sirva simultaneamente a função de taparuer e prato, um copo, talheres (há utensílios multi-funções), um guardanapo de pano, uma palhinha reutilizável e uma garrafa de água. Já falei das duas ultimas coisas. Servem para levar para todo o lado, permitindo dispensar utensílios para comer de plástico e recolher o lixo feito. O kit completo poderá não ter utilidade o tempo todo, mas ter um copo que permita não gastar os copos plásticos das máquinas do café, por exemplo, faria muita gente poupar uma quantidade relevante de lixo. E dá perfeitamente para fazer o próprio kit de graça, como dito [aqui].

2. Usar loiça não-descartável em casa: Pratos e copos de vidro ou outro material que não se desfaça com o tempo é o mais comum, pelo menos em Portugal, mesmo assim até aqui já vi gente que usa plástico na própria casa unicamente por preguiça. Essas pessoas até podem ter dinheiro para gastar com isso, mas consciência decididamente não têm... Adequada para:
  • Quem tem como lavar a própria loiça. É isso, é esse o requisito. 
  • Quem quer/precisa de poupar dinheiro, já que compensa de longe comprar loiça uma vez em vez de ter de a comprar para cada refeição feita.

3. Usar loiça descartável compostável: Sim, isso existe, como dá para constatar por [este link]. Contudo, também dá para ver que não é algo muito barato. Então, é adequado para...
  • Pessoas com bastante dinheiro que não queiram mesmo ter de lavar a própria loiça
  • Pessoas que não têm como usar isso no dia-a-dia, mas conseguem comprar o suficiente para uma festa
  • Pessoas que têm a necessidade de usar loiça descartável e têm meios para comprar esse tipo de produtos

Critérios para escolher os produtos:

Embalagens eco-friendly
Embalagem
Como já foi mencionado anteriormente, tentar evitar as embalagens ou, pelo menos, produtos embalados individualmente, optando por embalagens reutilizáveis ou biodegradáveis. Também já disse a quem é possível e a quem não é, e precisamente por causa disso sugeri os critérios seguintes, em alternativa.

Seletividade das marcas
Isto pode ser um bocado complicado para pessoas que tenham dificuldades visuais e não consigam ver o que está escrito nos rótulos, ou que não tenham tempo para pesquisar as atitudes pouco éticas por parte das marcas. Mesmo para quem tem acesso a essa informação, nem sempre é fácil boicotar uma dada marca, seja por questões financeiras, seja porque a marca em si é suportada por outras marcas das quais se compra produtos [www]. Mas, para quem consegue, deve-se considerar...:
  • 1. Proteção animal: Mesmo quem não é vegan ou vegetariano pode considerar algumas coisas simplesmente lendo os rótulos. Por exemplo, sabiam que algumas latas de sardinhas têm um símbolo de um golfinho que indicam que a marca adere à política "dolphin safe"? Isso significa que, na pesca da sardinha, não são apanhados golfinhos. É a esse tipo de coisa que me refiro.
  • 2. Proteção florestal: Por exemplo, a obtenção do óleo de palma implica desflorestação e, considerando a quantidade de produtos que o têm, ocorre a uma escala massiva. Mais sobre o assunto [aqui], sendo que o artigo sugere como evitar produtos do dia-a-dia que contenham óleo de palma (incluindo a nutella...). Vale lembrar que pode aparecer sobre muitos nomes, tanto em [inglês] como em [português]
  • 3. Proteção cultural: Para exemplificar, há marcas de chocolate em pó que suportam diretamente as culturas que o produzem, e embora geralmente o produto seja mais caro, dura muito mais tempo pois - no caso do chocolate - é mais puro e uma quantidade significativamente menor de chocolate tinge igualmente o leite. Há lojas dedicadas inteiramente a vender produtos assim, aliás. 
  • 4. Anti-escravatura: Este é um clássico, penso eu - quem é que não sabe que a Nestlé obtém o seu chocolate de exploração infantil, [entre outros problemas]? Penso que não será preciso elaborar muito mais.
  • 5. Super alimentos: Está-se a comprar um super alimento quando a compra promove a economia nacional, o consumo sazonal e a saúde dos habitantes do país. Aqui uma [lista] de super alimentos portugueses e uma [entrevista] com nutricionistas que falam sobre o assunto.

3. Origem do produto: De novo, preservar o planeta nem implica só preservar a flora. Os animais também têm direitos e, frequentemente, zelar por eles até leva a que se gaste mais dinheiro. Sim, eu estou a falar de evitar pelo menos carne e fazer uma alimentação vegetariana, se bem que a vegan também é uma possibilidade ainda melhor. A alimentação vegan evita tudo o que tenha origem animal, incluindo ovos, leite, mel. E claro, dá para aplicar isso para além da alimentação. Portanto, ser vegan ou vegetariano é adequado para:
  • Pessoas que tenham pouco dinheiro. Há exemplos de pessoas que começaram por tirar um dia da semana para fazer uma alimentação vegan e notaram que lhes ficava muito mais barato. Vegetais, frutas, cereais e leguminosas são acessíveis em termos de preço. 
  • Para pessoas que não podem evitar comprar comida saudável preparada, como legumes cortados ou frutas descascada. O problema seria com o facto de leguminosas virem muitas vezes em latas, nem sempre acessíveis de abrir... E como leguminosas têm um alto valor nutricional, é importante que se consiga contornar a questão. 
  • Pessoas que estão confortáveis financeiramente ao ponto de não só evitar produtos de origem animal, como também substituí-los pelos seus equivalentes vegan/vegetarianos. Relembro que isso não é necessário e que há monstes de pratos vegan mais do que capazes de satisfazer as necessidades alimentares, comprar o equivalente vegan só faria com que fosse mais fácil uma pessoa tornar-se vegan. 
  • Para pessoas que queiram substituir os alimentos de origem animal por produtos vegan parecidos e que, mesmo não tendo dinheiro para comprar os substitutos, tem tempo e condições que lhes permitam fazê-los em casa. Na internet não faltam receitas...

Roupas em segunda mão.
Foto de: [www]

Segunda mão:

Este é daqueles pontos em que quem não tem dinheiro realmente não se pode queixar pois, na verdade, até simplifica a sua situação. Muita gente já faz isso em todo o caso, mas a sugestão é para quem não o faz claro.

1. Comprar em segunda mão: Há lojas de artigos usados ou considerados com defeitos estéticos de todos os tipos, até mesmo de roupa [lojas em portugal entre porto e lisboa] ou eletrodomésticos [lojas em portugal]. É daqueles casos em que, se uma pessoa tem como se deslocar até lá (tanto em termos de mobilidade como de energia), poderá não só contribuir menos para o consumismo como poupar dinheiro. E sim, também vale recorrer a páginas como o OLX, embora nem sempre em páginas dessas os preços sejam mais baratos...

2. Pedir emprestado: O tópico fala por si e, muitas vezes, isso pode ser feito pedindo aos vizinhos - o que até seria uma forma de os conhecer melhor, principalmente se emprestassem coisas alternadamente. Adequado...:
  • Para quem não tiver grandes dificuldades a interagir com outras pessoas
  • Para quem não tem como se estar a deslocar muito, já que se pode pedir aos vizinhos ou a amigos que tragam a casa
  • Para quem não tem muito dinheiro

Higiene e self-care:

Produtos menstruais

Alternativas de higiene
eco-friendly. Foto de: [www]
Em 30 anos, uma pessoa tem o período cerca de 360 vezes. Se, em média, gastar 30 pensos ou tampões nesse tempo (que é um valor comum), é responsável por pôr no lixo 10800 produtos menstruais. Acho que é um assunto do qual vale a pena falar...

1. Copo menstrual: Para quem não sabe, é basicamente um copo de silicone que se insere na vagina e recolhe o sangue. Muita gente tem-no elogiado pois, para além de não ir para o lixo com tanta frequência como pensos ou tampões - a maioria dura uns 10 anos -, não tem químicos como os tampões e não tem de ser trocado com grande frequência. Muita gente diz que o seu dura o dia todo - no final do dia, é só tirar, despejar o sangue, lavar e voltar a por. Assim, pode ser adequado...
  • Para pessoas que não têm qualquer problema em inserir coisas na vagina
  • Para pessoas que, dado o requisito anterior, não conseguem lembrar-se de trocar outros produtos menstruais com a devida frequência, ou não o querem fazer pelas mais variadas razões
  • Para pessoas que estejam à vontade para lidar com sangue
  • Para pessoas que querem poupar, dado que comprar um copo menstrual a cada 10 anos fica muito mais barato que comprar qualquer tipo de pensos ou tampões

2. Calções/cuecas/boxers absorventes: São basicamente cuecas que funcionam como pensos menstruais, com a diferença de que teoricamente aguentam o dia todo (depende do quão pesado é o ciclo da pessoa). Em todo o caso, não têm de ser mudados com frequência e não vão para o lixo, sendo lavados em casa como qualquer peça de roupa. Assim, podem ser adequados...
  • Para pessoas que tenham [vaginismos] e não consigam inserir copos menstruais
  • Para pessoas cuja cultura não acha aceitável que se usem produtos inseríveis
  • Para pessoas trans ou não-binárias que preferem evitar produtos inseríveis
  • Para pessoas que não se conseguem lembrar de trocar produtos menstruais com frequência, ou não o querem fazer pelas mais variadas razões
  • Para pessoas que não consigam trocar outros itens por si e não queiram depender da ajuda de alguém
  • Para pessoas que só querem fazer um investimento de longe a longe, também é uma boa sugestão

3. Pensos ou tampões orgânicos: São pensos aparentemente normais, mas que são biodegradáveis e mais confortáveis, sendo de algodão e não plásticos. Isto dito, ainda são uma forma de desperdício e, como não estão à venda em todo o lado, dá para considerar o gasto de combustível envolvido no transporte. Em todo o caso, já é uma melhoria que pode ser adequada...
  • Para pessoas que estão habituadas a usar pensos ou tampões
  • Para pessoas que têm meios financeiros para encomendar estes produtos frequentemente ou mesmo comprá-los em lojas, dado que são mais caros e, tal como pensos ou tampões não-orgânicos, devem ser mudados com frequência e descartados
  • Para pessoas com pele sensível que podem constrair problemas usando pensos e tampões não-orgânicos, devido aos químicos e a não deixarem a pele respirar

4. Pensos de pano reutilizáveis: Como nome diz, são pensos de pano que podem ser lavados após o uso, voltando a ser usados mais tarde. O único senão é que têm de ser trocados com frequência, e nem toda a gente gosta da ideia de andar com pensos ensanguentados ou molhados consigo (mesmo que numa bolsinha própria). São adequados...
  • Para pessoas que não têm muito dinheiro, pois basta comprar uma vez pensos suficientes para durar o ciclo todo (e são muito menos que 30, dado que conforme que para de usar um ele pode ser lavado e usado de novo durante o mesmo ciclo), não se comparando ao gasto com pensos descartáveis
  • Para pessoas que não gostam de produtos inseríveis
  • Para pessoas que se lembram e são capazes de mudar os pensos com frequência
  • Para pessoas que conseguem lavar os próprios pensos ou têm alguém que o faça por elas

5. Outras alternativas: sim, há mais, mas eu não vou dedicar um tópico inteiro a elas devido aos contras. Por exemplo, algumas pessoas falam em usar esponjas do mar, mas eu já vi críticas negativas ao uso das mesmas relacionadas com riscos de infeções e outras coisas - e vale lembrar que esponjas do mar são animais... Quanto a pensos feitos em casa, são algo demasiado time-consuming para ser uma possibilidade real para a maioria das pessoas, e provavelmente algo demasiado cansativo de fazer para quem já tem determinadas dificuldades...

Maquilhagem e self-care

Algumas pessoas fazem os seus próprios produtos, como eu digo adiante, mas isso não é viável para toda a gente, portanto, aqui estão recomendações de marcas de produtos eco-friendly e cruelty-free (ou seja, que não realizam testes em animais): [www www www]

Itens reutilizáveis:

Esta secção será só uma lista enorme de coisas que se tem em casa de pouca duração e podem ser trocadas - após estragarem - por produtos equivalentes não-descartáveis, ou pelo menos com uma duração maior, devido aos seus materiais. Aquilo que fui dizendo no resto do post também se aplica aqui: nem todos estes itens são acessíveis para toda a gente. Contudo, para quem sconsegue usar, são um bom investimento. Mais sugestões [aqui]:
  • Escova de dentes de bambu em vez das habituais. A própria embalagem tende a ser reciclável e de fácil abertura. 
  • Utensílios de cozinha de aço em vez de plástico
  • Guardanapos de pano ou algodão reutilizáveis
  • Papel higiénico reciclável
  • Sacas para o lixo biodegradáveis - nem que seja para recolher o lixo produzido pelos animais ou as necessidades dos cães quando são levados a passear
  • Toalhas orgânicas
  • Esferográficas feitas de canetas recicladas
  • Papel reciclado, e até mesmo papel de alumínio reciclado
  • Lâmpadas LED
  • Brinquedos para crianças feitas de embalagens de leite ou outro material reciclado
  • Guarda-chuvas compostáveis
  • Relógios de madeira
  • Joalharia feita de metais reciclados
  • Capas para telemóvel feitas de materiais reciclados
  • Carteiras feitas de material reciclado
Alimentos típicos de uma dieta vegan, ordenados por cor. Foto retirada de: [www]

Outras dicas:

1. DIY - Do It Yourself: saber, por exemplo, substituir produtos de limpeza caros por coisas que se tenha em casa (como vinagre [www]) igualmente eficazes não é particularmente difícil - não envolve cortar alimentos nem nada - e poupa dinheiro. Claro, há tutoriais complexos e/ou demorados, mas há outros que são simples, baratos, e a maioria das pessoas realmente pode fazer. Também há [tutoriais][mais tutos] que ensinam a aproveitar coisas que de outro modo iriam para o lixo.

2. Reciclar: Isto é possível por pessoas que se consigam deslocar aos contentores devidos, ou que possam fazer a separação em casa e ter alguém a tratar do resto. Muita gente sabe que deve reciclar e tenta, mas pelo sim pelo não, [dicas para reciclar corretamente][mais dicas][contentores em Portugal]. Já agora, tenho notado que muitas páginas mencionam um contentor vermelho para plástico - isso é alguma coisa do Brasil? Porque aqui em Portugal, sempre vi amarelo para plástico.

3. Cultivar comida: Jardinagem pode ser complicado para quem tem dificuldades físicas, mas depende muito do caso. Há pessoas com certos problemas físicos e mentais que até consideram a atividade terapêutica e, nesse caso, podem aproveitar também para cultivar o que comem. É também uma solução para quem não tem muito dinheiro, pois mesmo quando não há espaço, há formas de cultivo adequadas para espaços pequenos, como [hortas verticais]. Para além disso, não é propriamente necessário comprar sementes - há diversos [alimentos que se podem cultivar depois de comer]. Dicas gerais: [www www]
  • Na própria casa - ou seja onde for que se more: Como já disse, hortas verticais ou usar vasos não ocupa muito espaço, e assim as pessoas podem ter acesso a comida saudável sem gastar dinheiro.
  • Em lugares abandonados: Nem sempre é possível dado que alguns lugare abandonados são considerados propriedade privada, mas hàs vezes é. Hortas em lugares abandonados não se destinam necessariamente ao consumo próprio, mas a deixar que quem passe por lá leve o que quiser (vale espalhar mensagens para isso ficar claro), ou recolher para dar ou vender. 

4. Fazer compostagem: Assim, são aproveitados resíduos orgânicos (como certos restos de comida) para adubar a terra - ou seja, este tópico complementa bem o anterior. Dicas: [www www www]

5. Alimentação crudívora: Consiste em comer alimentos crus: legumes, frutas, frutos secos, cereais, qualquer coisa que dê para comer assim... E já vi por aí receitas muito interessantes. Não gasta eletricidade a cozinhar os alimentos, poupando dinheiro, e é bastante saudável [razões]. Implica que a pessoa consiga lavar e preparar legumes/fruta caso queira realmente poupar dinheiro e não recorrer a embalagens, e que consiga comprar coisas a granel pelas razões que já mencionei. Mesmo que não se queira aderir completamente, é algo que muitas pessoas poderão conseguir fazer de vez em quando. Dicas: [www www]

6. Fazer uma lista de compras: Listas de compras são daquelas coisas incentivadas para uma pessoa resistir à tentação de comprar o que vê à frente, mas eu iria ainda mais além. Conforme se for tendo uma ideia de quais são os produtos mais eco-friendly que têm utilidade, pode-se usar a lista para indicar exatamente a marca do produto que se quer. E para quem está à vontade com a tecnologia, basta fazer a lista uma vez no telemóvel, em forma de checklist (poderá crescer conforme se nota que faltam coisas), e é só fazer uncheck quando o produto tiver acabado. Assim, até se sabe sempre o quê que há em casa sem ter de tirar dias para verificar e fazer uma lista de compras nova.

7. Poupar ou aproveitar a água: Não me refiro apenas a desligar a torneira enquanto se está a lavar os dentes e medidas desse género. Refiro-me a, por exemplo, aproveitar enquanto a água não aquece para encher um balde com água fria e a usar para outras coisas, ou aproveitar a água de lavar a loiça (suja com os restos da comida e detergente) para despejar na sanita. Como sempre, compreendo que possa apresentar dificuldades para algumas pessoas, mas é uma ideia para quem pode fazer isso.

8. Tomar certas medidas quando se vai acampar: Como é mencionado neste [link], há medidas como respeitar as regras do parque, não sujar, contribuir para a compostagem e outras pequenas coisas que fazem a diferença. E sao coisas verdadeiramente simples que não creio que levantem obstáculos a ninguuém - claro, se estiver enganada, façam o que vos for possível.

9. Participar em ações de voluntariado dirigidas ao problema: Não é difícil encontrar iniciativas, sinceramente, e o tópico fala por si.

10. Suportar iniciativas politicas que visem o bem estar do ambiente - quer financeiramente, quer de outra forma: Algumas iniciativas são citadas [aqui] no tópico "how to actually make decisions that help the environment", embora eu não concorde que ações individuais nos desviem do objetivo nem que é dinheiro mal gasto - até porque a pessoa que escreveu o artigo parte do pressuposto que toda a gente vai gastar dinheiro para aderir ao movimento zero waste, quando às vezes se verifica o contrário. Em todo o caso, algumas iniciativas até recompensam quem participa nelas ativamente, como a [TerraCycle]
Tenho a certeza de que escapou alguma coisa, mas... o post já está grande que chegue >.< Espero que tenham gostado, demorem o vosso tempo a ler e depois digam se tencionam ou já estão a colocar algumas das sugestões em prática. Eu estou, mas ainda quero fazer melhor antes de falar do assunto.

Oh, e não, hoje não haverá o post da coluna diária. Acho que vou postar nessa coluna todos os dias menos ao domingo, já que ao domingo faço sempre um post longo...
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